O mês de maio de 2019 tem tudo para inserir-se como um divisor de águas na luta por democracia e direitos sociais, desde a vitória do governo neofascista de Jair Bolsonaro. O corte de 30% no orçamento das instituições federais de ensino faz parte de um pacote mais amplo de desmonte do Estado e dos pressupostos da democracia. Inviabilizar o funcionamento das universidades abrirá campo para uma ampla privatização da educação e, ao mesmo tempo, abrirá caminho para o avanço do conservadorismo e o sepultamento da república democrática. Contudo, a sociedade brasileira, particularmente os estudantes e professores reagiram a altura levando centenas de milhares de pessoas às ruas pela educação pública no dia 15 de maio.
A reação do governo foi buscar apoio nos setores mais retrógrados da sociedade brasileira mais convencidos do pensamento reacionário característico da família Bolsonaro. A convocatória do último dia 26 tinha objetivos audaciosos: pressionar o Congresso para acelerar a votação da reforma da previdência, emparedar o STF e defender a continuidade do estado de exceção instaurado pela operação Lava-Jato e responder às manifestações pela educação das semanas anteriores. Em comparação com os atos em defesa da educação, o fracasso do governo foi evidente. Contudo, os atos demonstraram que a base social característica do neofascismo segue tendo coesão e capacidade de fazer barulho.
Para os setores democráticos e progressistas da sociedade brasileira, a barbárie e ignorância demonstrada pela minoria ativa defensora do governo, apenas provam que a maioria dos eleitores de Bolsonaro não está disposta a defender o programa conservador. A grande maioria do povo brasileiro, ainda fora das ruas e da disputa política atual, pode ser organizada em torno da defesa de seus direitos e da democracia. A tarefa da esquerda brasileira é aproveitar o impulso criado pela luta em defesa da educação para dialogar com as pessoas, aproximar e acumular forças.
Os atos do último dia 30 de maio lograram manter e ampliar a mobilização em várias regiões do país. Contudo, a mudança da correlação de forças não se dará apenas através das convocatórias de atos massivos. É necessário transformar a energia de luta atual em uma campanha de formação e organização de nosso povo em torno da bandeira dos direitos e da democracia. O ponto de partida são as próprias universidades.
O 57º Congresso da União Nacional dos Estudantes, marcado para julho deste ano, será um marco na história da entidade, retomando seu papel dirigente e politizador da juventude brasileira. É o momento de ampliar ao máximo as organizações estudantis e coloca-las a serviço do trabalho de base com o conjunto da classe trabalhadora. O desafio de retomada da democracia e a capacidade de impor outro projeto de país exigirá persistência. Transformar a energia atual da luta pela educação em um processo contínuo de organização e educação popular é o primeiro passo. Como nos lembra a letra da banda Baiana System, quase um hino dos jovens nas ruas, trata-se de traçar os novos planos para poder contra-atacar.
Edição: Monyse Ravenna