Na manhã desta segunda-feira (17), a Arquidiocese de Olinda e Recife se reuniu com movimentos populares e parlamentares pernambucanos na Cúria Metropolitana para debater sobre os riscos que a possível construção de uma usina nuclear na cidade de Itacuruba, Sertão pernambucano, pode trazer para a segurança hídrica e ambiental de Pernambuco e região.
A retomada desta movimentação antinuclear começou no final de 2018, quando o atual governo federal anunciou uma guinada na política nuclear, sugerindo aumentar essa fonte na matriz energética brasileira e privatizar a atividade nuclear, hoje monopólio da União. No último fim de semana, foi realizada no sertão do estado a Caravana Anti Usina Nuclear, que contou com a participação dos moradores da região.
A reunião iniciou com contribuições do professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Heitor Scalambrini, físico e especialista em energia, que chamou a atenção para os riscos que um eventual acidente nuclear poderia trazer para a natureza e a vida das pessoas. “Há o mito de que a energia nuclear é segura. Não existe nenhuma obra de engenharia que tenha risco zero”, afirmou o professor, reforçando que se trata de uma questão imprevisível, mas que é importante prezar pela prevenção para que não haja contaminação do ar e dos lençóis freáticos no futuro.
A professora da Universidade de Pernambuco (UPE) Vania Fialho, doutora em sociologia, também apresentou argumentos do ponto de vista social que alertam para os riscos desse projeto. Ela lembrou do desastre de Chernobil, na Ucrânica, considerado o maior acidente nuclear da história e defendeu “uma ideia de desenvolvimento a partir de outro olhar” para evitar novas catástrofes.
A advogada da Comissão Pastoral da Terra (CPT) Gabriela Santos salientou o compromisso das pastorais com as populações da região e questionou o projeto de “desenvolvimento” que uma usina nuclear pode trazer para o sertão de Pernambuco. “É um projeto de levar desenvolvimento para quem? Um investimento de R$30 bilhões que não gerar para essas pessoas desenvolvimento algum, não vai sequer gerar emprego para a população local “, afirmou.
O presidente do Instituto Dom Helder Câmara Antônio Carlos Maranhão reforçou que os acidentes nucleares trazem “consequências duradouras e muito sérias” e que é preciso que a sociedade tenha a possibilidade de escolher “Que riscos nós humanos queremos correr para ter esse tipo de desenvolvimento?”. Por fim, Dom Gabriel Marchesi, bispo da Diocese de Floresta, reforçou o compromisso de lutar contra um projeto desumano assumido pela fé católica: “Como Igreja, não podemos ter descaso com a vida das pessoas”.
Parlamentares pernambucanos também estiveram presentes e fizeram considerações a respeito do tema. A deputada estadual Teresa Leitão (PT) relembrou o artigo 216 da Constituição Estadual, que determina a proibição da “instalação de usinas nucleares no Território do Estado de Pernambuco enquanto não se esgotar toda a capacidade de produzir energia hidrelétrica e oriunda de outras fontes”. O deputado estadual Isaltino Nascimento (PSB), é líder do governo estadual na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), afirmou que o poder executivo não assumiu posição de conceder às exigências do governo federal.
O deputado estadual Doriel Barros (PT), insistiu que outras fontes de energia fossem implementadas e frisou que é preciso ouvir população sertaneja. O deputado Fabrizio Ferraz (PP) reforçou que é preciso mais espaços de debate para ampla discussão, porque “não se trata de um problema local de Itacuruba”. “Os problemas relacionados à nossa região devem ser tratados como problemas de todos nós”, reforçou. O deputado federal Carlos Veras (PT) se colocou à disposição para travar essa discussão também no Parlamento Federal.
Edição: Monyse Ravena