Nesta sexta-feira (2), chegou ao fim a “Caravana da Resistência: Por terra, aposentadoria digna e Lula Livre!”, que percorreu mais de mil quilômetros, seguindo o percurso do rio São Francisco, por dez cidades no interior nordestino. O trajeto em terras pernambucanas teve início às 10h da manhã, com festa de 20 anos de assentamento em Petrolândia. Em seguida, foram realizadas visitas ao Sindicato Rural, em Águas Belas, e ao Centro Paulo Freire, em Caruaru.
Assumindo o mesmo caráter da Caravana da Cidadania e da caravana Lula pelo Brasil, quando Lula percorria cidades de pequeno e médio porte, participaram desta edição os deputados Paulo Pimenta (PT-RS), Carlos Veras (PT-PE), João Daniel (PT-SE) e Valmir Assunção (PT-BA) e os senadores Humberto Costa (PT-PE) e Rogério Carvalho (PT-SE). A viagem começou por Juazeiro (BA), na última quarta-feira (31).
Além dos deputados e senadores, também houve a presença de movimentos populares. Para Jaime Amorim, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que também participou da Caravana de Lula pelo Nordeste, o que se percebe é que antes havia uma grande expectativa de que Lula conseguiria ser candidato e venceria as eleições de 2018, recuperando a democracia brasileira após o golpe de 2016.
No entanto, ele indica que o momento político agora é outro e que a população percebe que “perdemos a democracia”. “Agora, é um outro momento, em que o golpe se consolidou, o fascismo tomou conta do Brasil e reformas liberais foram feitas contra o direito dos trabalhadores”, frisa.
Neste sentido, Jaime aponta que a Caravana da Resistência representa uma retomada da mobilização popular. “As bandeiras de luta estão bem demarcadas. A primeira, é o anseio por lutar pela liberdade de Lula e, a segunda, é lutar contra a Reforma da Previdência e as reformas liberais que estão sendo feitas”, explica.
Alexandre Conceição, também da direção nacional do MST, declara que a caravana percorreu o Nordeste denunciando as atrocidades do governo Bolsonaro, “que tem cortado as políticas públicas do desenvolvimento da agricultura familiar, orçamento da educação e do Incra, para desapropriação de terra”. Ele relembrou, ainda, que é importante denunciar o acordo entre o ministro Sérgio Moro e o procurador do Ministério Público Federal Deltan Dallagnol para prender o ex-presidente Lula.
Em Pernambuco, a passagem da caravana teve, ainda, o objetivo de denunciar o boicote promovido pela Caixa Econômica Federal aos governos do nordeste, conforme revelou reportagem do Estado de S. Paulo. De acordo com a matéria, Pedro Guimarães, presidente do banco federal, teria orientado funcionários a não liberar empréstimo para estados e municípios da região.
A Caixa Econômica é uma empresa pública vinculada ao Ministério da Economia, comandado pelo presidente Paulo Guedes. O biocote reforça a postura assumida pelo atual presidente Jair Bolsonaro (PSL), que vem, desde o início da sua gestão, escanteando a região e declarando que os governadores nordestinos não deveriam pedir recursos ao Governo Federal por não comporem sua base aliada.
Segundo levantamento realizado pelo Estado de S. Paulo, com base nos números do banco e do Tesouro Nacional, em 2018, 21,6% dos empréstimos autorizados a governadores e prefeituras foram destinados ao nordeste. Em 2019, esse número despencou para 2,2%. Dos R$ 4 bilhões em empréstimos autorizados, apenas R$ 89 milhões foram para a região.
Este episódio tem sido interpretado como uma retaliação do presidente Bolsonaro ao nordeste, por causa do pouco apoio popular que ele possui na região e porque todos os governadores nordestinos são oposição ao seu governo.
Na opinião do deputado federal Valmir Assunção, as revelações envolvendo a Caixa Econômica denunciam a perseguição de Bolsonaro ao Nordeste e o preconceito com a região. “Mostra o caráter perseguidor e de ódio aos nordestinos. Cabe a nós, nordestinos, nos organizar para pressionar e reivindicar os nossos direitos”, reforça.
Para Alexandre Conceição, esse boicote tem impactos diretos na economia da região. Como alternativa às represálias do governo federal, o dirigente do MST propõe o fortalecimento do Consórcio dos Governadores do Nordeste, que “pode ser essa grande alternativa para a gente construir o Mais Médicos do Nordeste, um programa de educação da região nordeste, um programa de convivência com o semiárido. Para que, junto aos movimentos populares, a gente possa construir uma economia cada vez mais solidária e mais forte”.
Quando questionado por jornalistas sobre os baixos números dos empréstimos, Bolsonaro afirmou que “houve um equívoco nessa informação” e se limitou a dizer que as prefeituras do Nordeste são as mais inadimplentes do país, sem apresentar qualquer dado que sustentasse essa informação.
Edição: Monyse Ravena