No mês de julho a União Nacional dos Estudantes (UNE) realizou em Brasília seu 57º congresso, onde milhares de estudantes traçaram uma agenda de lutas para o próximo período e também elegeram a próxima diretoria da entidade. Rosa Amorim, estudante pernambucana e membra da coordenação nacional do Levante Popular da Juventude foi entrevistada pelo Brasil de Fato Pernambuco para fazer uma análise das últimas mobilizações da UNE.
Brasil de Fato: Como está a UNE atualmente e como ela tem funcionado nacionalmente?
Rosa Amorim: A União Nacional dos Estudantes tem um protagonismo desde as lutas políticas mais gerais do Brasil, mais especificamente as relacionadas à educação. A UNE atuou na luta contra o golpe militar de 1964, parte dos seus militantes foram presos, torturados e exilados por defenderem a democracia, que era a pauta principal desde a sua fundação na década de 1930 e essa pauta continua sendo central porque neste momento, defender a democracia é defender a educação. A UNE nesses últimos dois anos teve um papel central na conjuntura, lutou ativamente desde o segundo turno das eleições se colocando contra o projeto do governo Bolsonaro e que agora vem se mostrando como um inimigo da educação. Também nesse último período contribuiu na mobilização das lutas em torno da pauta da educação como o 15M, que levou milhões de estudantes para as ruas e também o 30M, que chamamos de tsunami da Educação, porque foi por conta da educação que muita gente foi para as ruas contra esse pacote antipopular que esse governo vem querendo impor.
BdF: O Congresso da UNE acaba de eleger uma nova diretoria para os próximos dois anos. Qual a expectativa?
Rosa: Falamos que o Brasil está vivendo um momento onde é necessário a UNE estar na base, além das lutas em defesa da educação pública, porque o projeto Future-se, desse governo, é a privatização da educação. Para além disso a UNE tem um papel central nesse momento que é retomar o trabalho na base do movimento estudantil, com os centros e diretórios acadêmicos ativos, para ter um contato com estudantes, defendendo as pautas do seu curso e também as mais gerais. Uma das diretrizes foi a retomada da UNE Volante, que fizemos na última gestão, onde passamos por várias universidades em todo o país, debatendo o projeto de educação, a conjuntura política, despertando os estudantes para o que vem acontecendo e aglutinando forças para construir uma organização mais popular e lutar contra esse governo.
BdF: A educação tem sofrido muitos ataques do governo atual. Porque ela tem essa centralidade e qual o papel da UNE nessas mobilizações?
Rosa: A gente fala que esse governo vem mexendo em algo que é muito importante para nós, que é a disputa das ideias, da ideologia. Quando Bolsonaro diz que vai cortar a verba das universidades onde acontece balbúrdia, para nós, balbúrdia e o que incomoda eles, é ver mais negros e mulheres entrando na Universidade, a produção científica crítica produzida ali e por isso a pauta da educação é central.
BdF: Tem uma nova mobilização da Educação marcada para dia 13 de agosto. O que ela representa e qual a projeção para essa mobilização?
Rosa: Conseguimos uma grande vitória neste último período, no processo dos “tsunamis da educação” e essa mobilização foi uma vitória, além de reverter o corte orçamentário das universidades, que é o que paga as contas das instituições e não para por aí, porque Bolsonaro vem cortando mais e mais da educação. O que está colocado nesse momento é o Future-se, que é um projeto de privatização da educação, para fazer com que a universidade se flexibilize para a entrada de empresas e imagino que vai ser reconfortante para os reitores as empresas pagarem as contas que o governo não vai mais garantir, que são as contas de luz, água e os estudantes e professores vêm se colocando contra. O futuro da educação é a privatização? A gente coloca que precisa ser outro, então vamos para rua pra defender o nosso projeto de futuro para a educação.
BdF: Aqui em Pernambuco quais são as pautas prioritárias do movimento estudantil?
Rosa: Conseguimos nesse último período mobilizar milhares, o que é um boa síntese. Em Pernambuco foram atos muito grandes, aqui no Recife foram cerca de 200 mil pessoas em defesa da educação e isso mostra como estamos conseguindo fortalecer o movimento estudantil na defesa de pautas locais e gerais. Agora é trabalhar no sentido de mobilizar os estudantes pela base, organizando centros e diretórios acadêmicos nas universidades públicas e particulares e as organizações do movimento estudantil estão empenhadas nisso, especialmente porque em outubro, ainda sem data definida, nós teremos o encontro da União dos Estudantes de Pernambuco (UEP) que tem a perspectiva de reunir estudantes do estado para fortalecer ainda mais a luta em defesa da educação.
Edição: Monyse Ravenna