Desde fevereiro, o abastecimento de água no Eixo leste da Transposição do Rio São Francisco está interrompido. Até agora, tudo que a população sabe através do Governo Federal é que um problema técnico nas obras na barragem de Cacimba Nova, na cidade de Custódia (PE) é apontado como causa da interrupção. Há meses, moradores estão voltando a viver como se a obra da transposição não existisse, como na cidade de Monteiro, no Cariri paraibano, que agora retornou à política de rodízio de água nas torneiras e compra de carro-pipa, que chega a custar cerca de R$ 150,00 , como explica o servidor público Airton Feitosa “Isso acarreta num problema, porque quando as pessoas não tem condições de estocar a água, tem que recorrer a compra de água, o que aumenta o custo de vida das pessoas. Já tem um aumento desses carros que vendem água na cidade” explica.
Além da interrupção do abastecimento, as chuvas desse ano não foram suficientes para encher os açudes, cisternas e outros reservatórios de água. Com o passar de quase seis meses sem água, os reservatórios que abastecem a região já estão com o volume mínimo, cerca de 5%. Na cidade de Monteiro, a situação chega a ser mais grave, já que o principal açude da cidade, o Poções, teve sua parede rebaixada e consequentemente o volume diminuído para que a vazão da água fosse o suficiente para chegar até a cidade de Campina Grande, que estava entrando em colapso por falta de água, o que diminuiu a capacidade de armazenar água para as duas cidades, que juntas têm cerca de 400 mil habitantes.
A estudante Nathanaelly Ferreira relembra dos grandes intervalos de tempo sem água antes da transposição “A situação dessas pessoas é complicada, porque muitas não tem um reservatório grande. Algumas casas chegavam a ficar dois, três meses sem água na torneira. O abastecimento tinha melhorado essa condição e a paralisação não afeta uma ou duas pessoas, mas toda a cidade”. Além dos impactos na vida da população, a própria obra tem sido danificada por falta de uso. A estrutura dos canais já apresentam fissuras e rachaduras, causadas pela falta de água no Eixo, além de trechos onde há água parada, que compromete a qualidade da água e pode gerar problemas de saúde pública.
Mobilização
Diante da iminência de uma crise hídrica, movimentos populares, prefeitos, vereadores e políticos da região vem abrindo espaços de diálogo com a sociedade, como afirma Gilmar Felipe, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que vem passando pelas cidades afetadas para explicar a interrupção do abastecimento e conscientizar e mobilizar as comunidades a cobrar um posicionamento e uma atitude do Governo Federal para resolver o problema “Já passamos por Sumé, Monteiro, Camalaú, além das comunidades rurais. Temos feito reuniões de mobilização em escolas e nas comunidades e fazendo trabalho de base junto com prefeitos, vereadores e uma Brigada de Agitação e Propaganda composta junto com a Pastoral da Juventude Rural”.
O ato do domingo (01) tem uma expectativa não apenas de pessoas presentes, mas de conseguir externar a indignação e tornar público para a sociedade o que a população das cidades afetadas já vem enfrentando para conseguir restabelecer o abastecimento, como afirma Gilmar “A expectativa é muito boa para o ato, porque a Paraíba inteira está mobilizada. Também vamos receber caravanas de outros estados. A gente espera que esse ato pressione o Governo Federal para retomar o bombeamento de água e que resolvam os problemas nas obras, além de concluir o restante da obra, porque falta muito pouco. Se não se resolver, vamos tentar outros atos e outras iniciativas de mobilização para o povo continuar vivendo com dignidade aqui no Semiárido”, finaliza.
Edição: Monyse Ravenna