Em Petrolina, no Vale do São Francisco, os apicultores notaram nos últimos anos um rápido aumento na mortandade das abelhas da espécie Apis mellifera, popularmente conhecida como abelha africanizada. Com as mortes, o impacto imediato tem sido a diminuição da produção de mel e outros insumos, como própolis e cera, como explica José Newton da Silva, apicultor há mais de 15 anos e vice-presidente da Associação dos Criadores de Abelha do Município de Petrolina (ASCAMP). “A gente nota as abelhas mortas na frente das colmeias, a diminuição dos enxames. Diminuiu muito a produção de mel, esse ano foi um fracasso. Na Associação a gente já produziu 30, 40 toneladas de mel por ano, e esse ano não sei se vai chegar a 10 toneladas”, projeta.
Se, a curto prazo, o impacto tem sido na produção de mel, a médio e longo prazo o problema pode se tornar ainda mais grave. A grande tarefa das abelhas na natureza é a polinização, é o processo em que o grão de pólen é levado até a região onde está o gameta feminino da planta, garantindo assim que as plantas deem frutos. As abelhas são responsáveis por 80% da polinização dos frutos em todo o planeta. Com a mortandade em massa desses pequenos e tão importantes animais, o impacto será a longo prazo na cadeia produtora de alimento.
Diante do problema, a ASCAMP acionou o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que instaurou um inquérito para investigar a causa das mortes. Uma das etapas de investigação é o estudo que está sendo feito pelo Centro de Manejo de Fauna da Caatinga (Cemafauna), da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) com o apoio da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Cardiff, no País de Gales. As abelhas podem estar morrendo em razão das mudanças climáticas, do longo período de estiagem dos últimos anos no Semiárido, da supressão da vegetação ou da associação destes fatores com o uso de agrotóxicos. A professora Dra. Aline Andrade, pesquisadora do Cemafauna, afirma que é levantada a hipótese do uso incorreto de agrotóxicos por conta dos resíduos presentes na cutícula, que é a pele das abelhas, mas que ainda é cedo para afirmar isso.
O agrotóxico encontrado nas abelhas é o Fipronil, que também vem sendo relacionado à morte de 12 milhões de abelhas em 200 colmeias no Rio Grande do Sul. Lá, o Ministério Público solicitou em agosto às Secretarias de Meio Ambiente e Agricultura a limitação da comercialização e do uso do Fipronil, cogitando a suspensão do uso do agrotóxico. José Newton espera que os produtores da área da fruticultura da região mudem de postura diante do ocorrido “Se o problema é mesmo o veneno, o primeiro passo é educar os produtores para fazerem a forma correta. Aplicando o veneno durante o dia, ele pega diretamente nas abelhas, que estão polinizando. Algumas chegam já morrendo de volta às colmeias. O problema é educar os produtores” explica.
Segundo Aline, o melhor sistema agrícola para garantir a produção e a qualidade de vida das abelhas é o que respeite o ritmo circadiano das abelhas, que é maneira pela qual elas se adaptam à duração do período claro e escuro durante o dia “Se ela sai para forragear naquele período, e os produtores agrícolas precisam usar o agroquímico naquele mesmo horário, é necessário respeitar a rotulagem e as instruções de uso”. Agora, para uma análise mais detalhada, as amostras coletadas na região foram enviadas para pesquisadores da Universidade de Cardiff. Esta etapa do estudo está prevista para ser concluída até o final deste ano. Além disso, o ‘SOS Abelhas’ realiza resgate de abelhas com um grupo formado por 36 membros com participação de outras instituições como o IF Sertão, evitando que muitos enxames sejam exterminados, o que de acordo com a legislação brasileira se configura crime ambiental.
Edição: Marcos Barbosa