Na última semana, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tornou público pedido de reintegração de posse efetuado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), referente ao Centro de Formação Paulo Freire e três agroindústrias dos assentados, localizados no assentamento Normandia, na zona rural de Caruaru.
O terreno, ocupado em 1993, durante cinco anos foi palco de reocupações, despejos e greve de fome, até que as famílias saíram vitoriosas e a área tornou-se assentamento. Normandia é, hoje, exemplo exitoso, desenvolvendo atividades econômicas e educativas em parceria com o poder público, fundações, organizações e universidades, com forte impacto local e regional. As agroindústrias, por exemplo, fornecem merenda escolar para municípios pernambucanos.
A despeito disso e em decisão questionável, o Incra, autarquia federal que deveria realizar Reforma Agrária, se posiciona contrário a uma experiência concreta de como fazer reforma em prol da coletividade, da educação e da justiça social. Essa ordem de despejo reflete um projeto político favorável ao aniquilamento de toda e qualquer possibilidade de justiça em benefício dos trabalhadores.
No executivo federal, Jair Bolsonaro se posiciona contrário aos movimentos populares, em especial o MST, desde as eleições passadas. Para além do discurso, as ameaças têm se convertido em ações políticas que favorecem a violência no campo e o fortalecimento do agronegócio e seus venenos.
Neste cenário, a disputa em Normandia não é só mais jurídica, mas ideológica, como apontou o dirigente do MST Jaime Amorim em coletiva de imprensa, na última segunda-feira (9). Sob uma falsa bandeira de “acabar com ideologias”, Bolsonaro e seus indicados utilizam-se da burocracia estatal para impor um projeto neofascista.
O conflito que se desenha no Centro Paulo Freire é mais uma investida conservadora contra os ganhos históricos da população brasileira. No entanto, assim como tem acontecido na defesa da Educação, da Amazônia e da Aposentadoria, a resposta que os movimentos populares de luta pela terra têm dado é a resistência a cada investida contra o campo brasileiro.
A história do Centro Paulo Freire, escrito nas trincheiras, é marcada por obstinação. Hoje, mais de duas décadas após as primeiras ocupações, temos a prova de que Normandia é terra fértil para as sementes da esperança de construção de um Brasil livre de fome e desigualdade, da exploração e da violência do latifúndio.
Como já dizia Paulo Freire, autor que não à toa dá nome ao centro e se faz cada vez mais relevante no momento político atual, “Não é na resignação, mas na rebeldia em face das injustiças que nos afirmaremos”. Em um ato coerente, o MST declarou que não desocupará o Centro de Formação e anunciou acampamento em Caruaru a partir deste sábado (14).
Formam-se correntes de solidariedade à persistência do movimento, com apoios de educadores, comunicadores, militantes, ativistas, juristas e parlamentares. Todo esse processo tem dado ainda mais importância e visibilidade ao Centro, às experiências lá desenvolvidas e ao quanto que as lutas por democracia e reforma agrária são unidas, urgentes e atuais.
Edição: Monyse Ravenna