Apesar da praticidade e economia, a falta de infraestrutura e a violência no trânsito marcam o cotidiano de quem usa a bicicleta como meio de locomoção. Em Pernambuco, por exemplo, foram registrados 3.087 acidentes de trânsito envolvendo ciclistas. O dado é de 2018 e representa um aumento de 80% em três anos. O levantamento foi feito pela Secretaria Estadual de Saúde e se refere apenas àqueles acidentes em que foram registrados atendimentos a ciclistas nos hospitais com especialidade em ortopedia e trauma, o que indica que o número de casos, na realidade, tende a ser ainda maior.
Buscando visibilizar esse problema e cooperar na fiscalização, ciclistas das cidades de Recife e São Paulo se uniram para desenvolver o projeto que recebeu o nome de Bicibot. Trata-se de uma assistente virtual que utiliza de inteligência artificial com o objetivo de quantificar e qualificar os casos que envolvem problemas de insegurança viária para usuários de bicicletas. A iniciativa é uma parceria entre a Associação Metropolitana de Ciclistas do Recife (Ameciclo) e a Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade).
Segundo Igor Matos, um dos desenvolvedores da Bicibot e associado da Ameciclo, não se trata de um aplicativo, mas de um “chatbot”, que funciona via mensagens de texto através do aplicativo Telegram ou do Facebook Messenger. Para registrar uma denúncia, o ciclista deve acessar o site bicibot.org e clicar em “Denuncie”, para iniciar o diálogo. “No primeiro momento, será perguntado de onde o ciclista é e que tipo de denúncia quer fazer. No final, é pedida uma confirmação. Todas as denúncias ficam disponíveis no site, onde é possível identificar onde está tendo mais registros de casos”, explica Igor.
Atualmente, a Bicibot funciona em São Paulo e Recife, com objetivos distintos. No Recife, o foco é denunciar casos envolvendo motoristas profissionais de ônibus e táxis que desrespeitam os ciclistas no trânsito. Já em São Paulo, o propósito é registrar as denúncias de invasão às ciclovias e ciclofaixas já existentes e contabilizar a demanda por manutenção. Segundo Igor, a ideia é ampliar a cobertura para mais localidades: “Contamos com apoio de outras associações de ciclistas para estar funcionando em todas as cidades em breve. Hoje, o projeto é código aberto e a gente dá suporte para quem quiser implementar a Bicibot na sua cidade. Todas as informações estão disponíveis em nosso site”.
Igor frisa, ainda, que com a geração desses dados referentes às infrações cometidas contra ciclistas, será possível cobrar da melhor maneira às prestadoras de serviços de ônibus e táxi e chamar a atenção para a quantidade significativa de casos ocorridos diariamente, que ameaçam a vida dos ciclistas. “Queremos mostrar, com dados, que é uma parcela mínima das infrações cometidas pelos motoristas que gera penalização. A gente sabe que fiscalização gera segurança para nós ciclistas, até porque, é uma forma de educar. As pessoas só passam a respeitar algumas leis por conta da fiscalização, isso não anda só, mas é um ponto crucial”, conclui.
Edição: Monyse Ravenna