Persistindo ao tempo, o samba de coco tem raízes na união das culturas negra e indígena no Brasil. Acredita-se que o ritmo, com sua dança e a tradição cantada surgiu da quebra dos cocos para a retirada da amêndoa e foi se tornando também uma forma de transmissão e manutenção do conhecimento e da tradição popular. Mesmo com esse histórico milenar, o ritmo, que hoje sobrevive através de grupos e associações culturais nas periferias do Recife e também na zona rural é pouco valorizado e visibilizado diante da mídia comercial e dos órgãos de preservação da cultura.
Em Olinda, o bairro de Peixinhos é um dos locais onde o samba de coco resiste. Lá, a Associação Cultural Nação Mulambo atua desde 1997 desenvolvendo em crianças e adolescentes habilidades com ritmos percussivos da cultura negra, levando uma opção de lazer, cultura e cidadania para o bairro, que por muitos anos esteve no Ranking da Violência dos bairros da Região Metropolitana do Recife. Para criar laços entre a atuação da Nação Mulambo e o combate a violência, promovendo uma cultura de paz no bairro, surgiu o Coco da Paz. Nos meses de junho e dezembro, grupos, associações, bandas, cantores e artistas fazem um cortejo musical pelo bairro, distribuindo rosas brancas e o pedido de paz para o lugar.
Neste ano, além dos grupos já parceiros, a exemplo do Grupo Comunidades Assumindo Suas Crianças (GCASC), Balé Afro Magê Molê, O Coco é a Resposta, Coco das Afilhadas e a Nação Ogan, a parceria para a realização do evento extrapolou as organizações do bairro e agora se estende aos movimentos populares como a Marcha Mundial das Mulheres e o Levante Popular da Juventude, que atuam no bairro através da militância política e social.
Além do pedido contra a violência, o evento homenageia pessoas ligadas ao tema, como explica a moradora do bairro e mestre percussiva da Nação Mulambo, Senhorinha Joana Alves “Todo ano homenageamos alguém que luta pela paz ou por ações culturais. Em 2018 homenageamos Marielle Franco e esse ano será Dona Elisa do Coco, mestra coquista da comunidade e que faleceu recentemente, que lutava pelo direito das crianças e adolescentes, pelos direitos humanos e era uma referência na comunidade”.
O evento só acontece no dia 14 dezembro, mas os preparativos já começaram. Um deles é o projeto de financiamento coletivo do Coco da Paz. A meta é arrecadar R$ 1.120,00 para arcar com despesas relativas a estrutura para a execução do evento. As doações variam entre R$ 20,00 e R$ 200,00 e também dão direito a brindes e prêmios. O financiamento vai até o dia 03/12 e quem quiser contribuir pode acessar o www.benfeitoria.com/cocodapaz. A outra iniciativa é um show da cantora e compositora pernambucana Isaar, que acontece no dia 09 de novembro na Associação de Moradores de Peixinhos a partir das 18h. Também se apresentam na ocasião a Nação Mulambo, O Coco é a Resposta, Coco das Afilhadas e o Coco do Ogan. A entrada custa apenas R$ 10,00.
Para Senhorinha, o Coco da Paz vai além do cortejo no bairro, mas é construído como um processo de união e exercício da cidadania e luta por direitos “O coco é o momento de envolver as várias organizações da comunidade para construir uma ação voltada ao combate a violência urbana. Pra mim ele representa resistência, a luta da comunidade em busca de melhoria da qualidade de vida desse povo” conclui.
Edição: Monyse Ravenna