Pose é uma serie em que nossa atenção é capturada de forma múltipla pelas narrativas, cores, músicas e pela forma – múltipla – em que dá relevo à Nova York dos anos 1980, sobretudo em seus guetos, com seus moradores, culturas e tabus que emergiam naquela conjuntura. A serie dirigida por Ryan Murphy apresenta o maior elenco de pessoas transexuais da história da televisão. Originalmente produzida e exibida pela FOX, ela pode também ser acessada pela Netflix.
O seriado foi uma das melhores coisas que vi em 2019, não à toa é considerada por muitos como essencial. Para mim, ela vale a pena ser vista por conta do enredo, da trilha sonora, do figurino (que figurino!), mas, sobretudo, porque ela também fala de história. Uma história de pessoas marginalizadas, pobres, em um dos países mais ricos do mundo. Ela fala do povo norte-americano, de seus modos de viver a cidade, suas dores e suas alegrias achadas nos bailes do Brooklyn.
E, desse povo, emerge para as telas com muito espaço e centralidade as personagens transgêneros e suas – múltiplas – exclusões e formas de sobrevivência. As competições dos bailes são uma dessas formas. Ali, em poucas horas, todas e todos vivem o glamour e a fantasia que dificilmente encontrarão para além daquelas portas.
Outro tema abordado de forma muito constante e que arranca lágrimas dos expectadores em vários momentos é a epidemia de HIV e AIDS vivida naqueles anos. Das perdas constantes das personagens, da luta pela vida, do esforço de lidar com uma doença nova e com um imenso preconceito que vinha daí.
No rol das tramas que se entrecruzam o mundo da prostituição é uma constante, às vezes como o único espaço possível e aceitável para aquelas pessoas, mas, às vezes, como uma escolha, uma opção.
Aproveitando para fazer duas indicações em uma, para quem gostar de Pose, recomendo fortemente o documentário “Paris is Burning”, também disponível na Netflix e que passeia com imagens da época pelo mesmo universo da série.
Pose tem episódios longos, que combinam com pipoca e com lenço de papel para as muitas e eventuais lágrimas e se prepare para conhecer as famílias de drag queens que dividem o palco, a arte e a vida.
*Monyse Ravena é editora do Brasil de Fato em Pernambuco
Edição: Marcos Barbosa