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Coluna

A abstinência sexual como política pública é irresponsável com a saúde do povo

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Medida anunciada pela ministra Damares é absurdamente irresponsável com a vida e com a saúde do povo brasileiro - Evaristo Sá/AFP
É irresponsável porque não há nada literatura científica mundial que justifique esta medida

O Brasil possui um alto índice de gravidez na adolescência. Nossos números superam a média mundial, assim como também a da América Latina. Isto por si é um problema que precisa ser encarado. Adianto, contudo, que não me refiro a ser um problema moral. Há toda uma gama de impactos econômicos e sociais que atingem principalmente as famílias mais pobres e com consequências, em geral, para o adoecimento e até mesmo mortes de mães e bebês. 
Apesar de não ser um problema recente, o assunto voltou à tona nas últimas semanas por conta da proposta do governo federal de colocar a abstinência sexual no centro de uma política pública que visa controlar estes índices. Nada contra a escolha de quem opta pela abstinência sexual por qualquer que seja o motivo. Mas ter esta defesa como centro de uma política pública, como falei, é absurdamente irresponsável com a vida e com a saúde do povo brasileiro.
É irresponsável porque não há nada literatura científica mundial que justifique esta medida. Longe disso, o que há nas evidências médicas aponta que o caminho passa por qualificar a educação, melhorar as condições socioeconômicas e falar sobre o assunto. Não dá para ignorar que estamos lidando com um problema de saúde pública e que impor questões morais como política de governo não contribui em nada.  
A máquina de notícias falsas ligada ao bolsonarismo logo trata de desqualificar os críticos deste tipo de política. Aposta no conflito e diz que o contrário é a promiscuidade. Aliás, o próprio Bolsonaro declarou nos últimos dias que o PT é o culpado pela “depravação total” no carnaval.
Apesar de polêmico, este assunto precisa ser confrontado. Assim como outros tão ou mais polêmicos, como segurança pública. O campo democrático precisa também apontar soluções e perspectivas, não somente indicando soluções para um momento futuro ou distante. E não me venham com o papo de que estes assuntos são as tais “cortinas de fumaça” do governo. Definitivamente não são. Estes assuntos estão no centro da sustentação ideológica do governo e a derrota dele também passa por este enfrentamento.
Apontar isso não significativa deixar de lado as pautas econômicas. Na realidade, são pontos que se encontram e explicam a ação e consequências do governo de Bolsonaro. Resta-nos ao campo progressista qualificar ainda mais a nossa atuação, de forma inteligente, paciente e segura, porém planejada e persistente. 


 

Edição: Monyse Ravena