Pernambuco

CINEMA

Com protagonista recifense, filme “Alice Júnior” será exibido em Berlim

Filme retrata as mudanças na vida de uma adolescente transgênero

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Protagonizado por Anne Celestino Mota, mostra a avalanche de mudanças na vida de Alice, que muda do Recife para uma escola católica - Divulgação

De forma bem humorada e leve, o diretor Gil Baroni leva ao cinema mais uma vez a discussão sobre gênero e sexualidade, dessa vez com o longa metragem Alice Júnior. O filme, protagonizado por Anne Celestino Mota, mostra a avalanche de mudanças na vida de Alice, que muda do Recife para uma escola católica localizada numa pequena cidade do Paraná. Nesse meio, Alice passa por um dos marcos da adolescência: a busca pelo primeiro beijo. 

Transgênero e nordestina, o corpo, a voz e a visão de mundo de Alice contrastam com o ambiente pacato da cidade fictícia de Araucária do Sul. Para Anne, alguns pontos na sua vida são comuns aos de Alice “Eu e Alice temos várias semelhanças e diferenças. A Alice é muito mais ‘blogueirinha’ que eu e muito mais empoderada do que eu, porque no filme ela é bem mais jovem. A Alice é bem acolhida pelos pais, tem toda uma história de proteção, amor e carinho, o que se parece muito comigo, especialmente em relação a minha mãe”. 

No longa, Alice faz parte de uma área em ascensão nos últimos anos, que é a produção de conteúdo para a internet, já que a personagem é Youtuber, o que casa com o projeto gráfico moderno do filme e uma linguagem cheia de elementos da vida online, como os memes. A proposta de criar uma narrativa onde a personagem é acolhida pela família e leva uma vida confortável não esconde o contraste entre a vida da personagem e a realidade das pessoas trans fora das telas, mas carrega um outro o objetivo: o de utilizar o filme como uma ferramenta de debate, especialmente nas escolas, um ambiente historicamente hostil para essa parcela da população “O filme deve ser passado em escolas também, porque é muito didático sem perder a leveza. É uma maneira muito bonita de ensinar. Com os prêmios o filme ganha visibilidade no sentido de ser uma atriz trans interpretando uma personagem trans, e dá também a oportunidade dele chegar e ser exibido em mais lugares”, projeta Anne. 

Estreando nas telas, a protagonista já tem tempo de atuação a partir das aulas no teatro, que faz desde a infância e que se estendem até hoje com a faculdade na mesma área. Por isso, talvez não seja tão surpreendente que o filme esteja carregando prêmios nos festivais por onde passa. Até agora foram: Melhor filme, pelo júri popular e Melhor longa brasileiro, no Prêmio Felix, no Festival do Rio; o filme também foi o segundo maior premiado no Festival de Brasília, com quatro Candangos, os de melhor atriz (Anne Celestino), atriz coadjuvante (Thais Schier), trilha sonora (Vinicius Nisi) e montagem (Pedro Giongo); Melhor longa metragem nacional; Melhor interpretação (Anne Celestino) e uma Menção Honrosa no Festival Mix Brasil, além de ser selecionado para quatro exibições dentro do Festival Internacional de Cinema de Berlim, que acontecem de 20 de fevereiro a 1º de março. 

Anne comemora a repercussão positiva “Por enquanto, com o filme rodando os festivais, nós estamos encontrando um público muito bom. Eu quero muito ver a resposta do filme quando ele chegar nas telas dos cinemas comerciais, para ver a aceitação do grande público. Por enquanto a energia é muito positiva e tem gerado muita visibilidade”. Por enquanto, o filme está sendo exibido apenas em festivais, mas chega às salas de cinema do Brasil em junho de 2020.
 

Edição: Monyse Ravena