Pernambuco, especialmente as cidades de Olinda e Recife, carregam a fama de fazerem anualmente os maiores carnavais de rua do país. Não tem nenhum órgão que comprove isto, mas as prefeituras das duas cidades, no ano passado, divulgaram dados que dão indícios de que se não é o maior de todos, está muito próximo. Em 2019, 3,4 milhões de foliões e foliãs subiram e desceram as ladeiras olindenses e no Recife, um total de 1,6 milhões de brincantes circularam pelos 45 polos montados pela cidade.
Foi dentro deste universo que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) resolveu disputar a folia, em 2000. Na verdade, a ideia começou com uma barraca para vender bebidas e que depois virasse um ponto de encontro dos militantes que estivessem brincando o carnaval. “É a nossa forma de trazer a arte a política juntos. Como a gente consegue ver o carnaval como um espaço de diálogo com a sociedade e também de disputa de narrativas.”, afirma Titi Cavalcanti, integrante do Movimento.
Montaram então a primeira folia, no bairro da Ribeira em Olinda, chamada “Vará pra funcionar”, por causa da proibição de instalar uma placa na entrada do escritório do Movimento, em que a prefeitura só permitia com alvará de funcionamento. No ano seguinte, os militantes organizaram um boi e saíram em cortejo pelas ladeiras da Cidade Alta.
A Barraca dos Sem Terra então, foi tomando corpo a cada ano e se consolidou como um espaço no Sítio de Seu Reis. A partir de 2013 a festa dos Sem Terra começou a tomar as ruas em um percurso de bloco e deu início a homenagear figuras da história que tenham referência na luta da classe trabalhadora, como forma de manifestar solidariedade e reconhecimento. O primeiro a ser homenageado foi o artista plástico e poeta Abelardo da Hora, que na época ainda estava vivo e caiu no frevo. No ano seguinte, a homenagem foi para Hugo Chávez, depois seguiu com Solidariedade Cubana. Também em 2015 o bloco de fato passou a ter nome e estandarte, depois de debates e discussões com a militância, os parceiros e os amigos do movimento, o que antes era um apenas um grupo carnavalesco passou a se chamar “Bloco Sem Terra”.
Em 2016 a homenagem do bloco foi para as mulheres, Dandara dos Palmares, Soledad Barrett e Frida Kahlo. A Revolução Russa foi a reverenciada em 2017 e os dois últimos anos tiveram o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na brincadeira. “Todo ano a gente tenta relacionar os temas de acordo com a conjuntura política e o debate também é com os amigos do MST”, conta Titi Cavalcanti, que estava na equipe da organização da folia desde o começo.
Para o carnaval deste ano, o Bloco Sem Terra completa 20 anos de presença em solos olindenses e vai homenagear Ana Primavesi, umas das pioneiras no estudo da agroecologia no Brasil e defensora da Reforma Agrária, que faleceu ano passado. O Bloco sai da tradicional barraca do MST, que atualmente está sendo instalada na Praça do Fortim, na segunda de Carnaval. A barraca tem programação desde a sexta-feira (21), com apresentações culturais.
Pólo da Resistência
Desde 2019, o carnaval do MST em Pernambuco ganhou também um espaço para os dias de momo. A festa começava em Olinda na tradicional barraca e terminava no Armazém do Campo Recife, que fica no coração do Recife Antigo, local também de muita programação carnavalesca.
Este ano tem mais uma novidade. É que o Armazém do Campo será um dos palcos descentralizados do Carnaval do Recife. O Polo da Resistência terá programação desde a sexta (21) até a terça-feira (25), das 20h às 01h. Ainda tem atração para confirmar, mas algumas já são certezas: Grupo Bongar, Orquestra Malassombro, Banda Fim de feira, Jorge Riba, Paulo Perdigão, Tibério Azul e muito mais. A programação completa deve sair no site da Prefeitura junto com a programação geral do carnaval. Também dá para acompanhar pelas redes sociais do Armazém do Campo.
Edição: Monyse Ravena