O carnaval é a época do ano em que a folia rola solta. Milhares de pernambucanos e pernambucanas se preparam para os quatro dias de muito frevo e alegria e sem o compromisso de ter que se preocupar com os boletos. Mas enquanto existe uma gama de foliões brincantes perambulando pelas ruas e ladeiras de Recife e Olinda, há também uma outra quantidade de pessoas que estão trabalhando para garantir a folia.
É o caso de Abraão José, 53 anos, que trabalha há 20 anos como camelô vendendo capinha para o VEM na Conde da Boa Vista mas que, há dois carnavais, está com uma banca no Bairro do Recife vendendo bebidas e comidas.Abraão contou que no ano anterior já tentou trabalhar vendendo bebida durante o galo mas não gostou da experiência então esse ano decidiu, junto a um amigo, trabalhar num ponto fixo esse ano.
Em pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de trabalhadores informais no Brasil bateu recorde no trimestre encerrado em julho de 2019 atingindo a marca de 41,3%. Esse índice indica trabalhadores empregados no setor privado mas sem carteira assinada, trabalhadores domésticos sem carteira, empregadores sem CNPJ e trabalhadores por “conta própria” sem CNPJ.
Essa é a situação de Carla Cristina, 34 anos, que no período fora do carnaval tem uma lanchonete em casa em que trabalha com o pai e aos domingos vendo cerveja no centro da cidade. Há 3 anos começou a trabalhar vendendo bebidas no bairro do Recife e disse que passa os quatro dias trabalhando sem tirar nenhum para brincar.
A rotina desses trabalhadores é cansativa. Carla disse que chega na banca, que fica na Rua Vigário Tenório, para organizar e gelar as bebidas por volta do meio-dia e só fecha quando acaba o movimento por volta das 5h da manhã para após algumas horas estar de pé e trabalhando novamente.
O alto índice histórico de trabalhadores informais que atinge 38,683 milhões de brasileiros e brasileiras é um contraponto ao percentual de redução do desemprego que caiu para 11,8% posto que esses empregos não se traduzem em trabalhadores com carteira assinada e direitos garantidos.
É o que nos conta Tatiene, 37 anos, que trabalhava como recepcionista mas depois que ficou desempregada não conseguiu mais emprego e há 8 anos trabalha vendendo coco. Durante os 4 dias de carnaval ela circula com seu carrinho vendendo cerveja pelas ruas do centro do Recife para garantir uma boa grana antes das “férias forçadas” como ela disse, que é o período das fortes chuvas na qual as vendas caem drasticamente.
A criatividade também uma marca dessas trabalhadoras e trabalhadores que estão na labuta em dias festivos, Tatiene diz que além das cervejas, também carrega em seu carrinho algumas capas de chuva já que o período de chuva chegou mais cedo esse ano. Ela disse que “tem que vir andando com tudo, com o que o tempo ta pedindo. Lá em casa é cheio de muamba” conclui rindo.
Edição: Vanessa Gonzaga