Pelo segundo ano consecutivo os blocos carnavalescos de partidos e movimentos de esquerda saíram juntos pelas ruas de Olinda na segunda-feira de carnaval. Tendo a frente o Bloco Sem Terra, que fez seu 20° desfile em carnavais, o Blocão reuniu militantes do PT, PCdoB, PSOL, sindicalistas e ativistas diversos que se identificam com o campo progressista.
O folião Paulo Gonzaga, psicólogo de Salvador, Bahia, se fantasiou com um jaleco com a bandeira de Cuba e a marca do programa Mais Médicos, que entre 2013 e 2018 levou 15 mil médicos para localidades que não contavam com profissionais ou em que estes eram insuficientes. O programa foi extinto pelo governo de Jair Bolsonaro em 2019. "O médico cubano representa uma das melhores políticas do governo Dilma Rousseff (PT, 2011-2016), em contraponto ao atual governo, que só tem atacado o SUS e a saúde pública", diz Gonzaga, que está pela primeira vez no Carnaval de Olinda. "Tem sido uma experiência maravilhosa, totalmente diferente do Carnaval de Salvador", admite.
Nas ruas o clima foi de amplo apoio. Grande parte das pessoas, ao avistarem as bandeiras vermelhas do MST e com o boneco gigante do ex-presidente Lula, se somavam aos cânticos de apoio ao ex-presidente. O trajeto do Bloco Sem Terra passa pelas ruas do Bonfim e Treze de Maio, a primeira conhecida por ser um espaço de perfis mais simpáticos às bandeiras da direita, enquanto a segunda é a "rua LGBT".
Houve vaias e alguns xingamentos, mas que foram uma minoria quase silenciada pelos gritos de apoio que se somavam aos cantos do bloco. Cenário bem distinto de 2019, quando o bloco chegou a ser atacado por pessoas que se sentiam legitimadas pela recente eleição de Jair Bolsonaro. Participaram do bloco figuras como os deputados federais Carlos Veras (PT-PE), Nathália Bonavides (PT-RN), o ex-vereador de Olinda Marcelo Santa Cruz (PT), o presidente da Central Única dos Trabalhadores de Pernambuco (CUT-PE), Paulo Rocha; e a presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Suzineide Rodrigues.
Também presente, o presidente municipal do PT Olinda e membro do bloco O Feitiço da Estrela, Luiz Antônio ou "Lulinha", avalia que como positiva a união dos grupos de esquerda no "Blocão". "O Carnaval não deixa de ser um espaço político. É importante brincarmos juntos, porque só juntos venceremos o fascismo - a começar tirando ele das ruas de Olinda. Juntos mostramos nossa força para a luta, defendendo nossas cores e bandeiras, com respeito às mnulheres, ao povo negro, às LGBTs. Esse blocão agrega todos nós", pontua Lulinha.
Clébson Santos, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), considera o espaço lúdico do carnaval também um espaço de disputa de ideias e sonhos. "Quando colocamos o nosso bloco nas ruas queremos dialogar com o povo da cidade, com muita gente que nunca viu o MST como parte da dinâmica da cidade. Mas temos que mostrar que a luta do MST é importante para toda a classe trabalhadora, do campo e da cidade", avalia Santos.
Ele destaca ainda a homenageada deste ano, a engenheira agrônoma Ana Primavesi, falecida em janeiro deste ano e maior referência em pesquisas e avanços no estudo da ciência do solo, responsável por avanços na agricultura orgânica e agroecologia. "Homenageá-la é defender a natureza, o campo e a alimentação saudável. Todos precisamos de alimento sem veneno e o planeta precisa de mais produção agroecológica", afirma.
Edição: Vanessa Gonzaga