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Coluna

Imunidade e comunhão

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Vaticano está fechado para evitar disseminação do coronavírus, mas cresce a necessidade de ações de solidariedade em tempos de pandemia e crise - Vatican Media/AFP
É preciso cuidar da imunidade para proteger a saúde, mas não se imunizar contra a solidariedade

Nesse tempo de riscos de contágio e de proliferação do coronavírus, é importante refletir sobre o que é a imunidade e que vem a ser a comunidade. É urgente distinguir de quais vírus devemos ser imunes e como ser imunes, sem perder a comunhão que nos liga a tudo e a todos. 

De fato, imunidade e comunidade são dois termos que parecem se opor. Quem é imune deixou de ser comune, termo que poderia designar o elo que cria comunhão. Em latim antigo, o termo communio designa a comum união, mas também parece que vinha do fato de se assumir juntos os múnus. Com múnus era a capacidade de carregar juntos o peso uns dos outros. Na tradição cristã, a comunhão é a interdependência que existe entre todas as pessoas de fé (comunhão dos santos), mas também a falta de imunidade espiritual entre todos (a comunhão nas coisas santas). Assim, o bem que um faz contagia a todos, como o pecado de um faz mal a todos. A comunhão possibilita, como escreveu o apóstolo, sermos um só, como um corpo que tem muitos membros. Cada membro tem sua função própria, mas o corpo é um só. Por isso, é preciso saber bem em que comungamos e em que devemos nos precaver de uma falsa comunhão que seria autodestrutiva.   

A imunidade é o que possibilita a autoproteção e o isolamento de qualquer mal que possa nos invadir. Fisicamente, nosso organismo tem células de defesa que impedem que um vírus ou bactéria se instalem. Quando essas células são destruídas, a imunidade se enfraquece e qualquer enfermidade se instala. Então, a imunidade fisiológica é fundamental e necessária. No entanto, Eduardo Galeano advertia de que vivemos em uma “sociedade do desvínculo”. Parece contraditório porque o próprio fato de viver em sociedade já seria um vínculo, mas a sociedade se tornou um acordo comercial que gera uma multidão de excluídos. Ninguém sabe se o Coronavírus foi produzido biologicamente como arma de guerra. Grupos de direita dizem que deve ter sido gerado na China e gente de esquerda garante que foram soldados dos Estados Unidos que o levaram para China na ocasião dos jogos militares de 2019. Seja como for, o próprio fato de que um vírus assim possa ser produzido como arma em laboratório revela o modelo de sociedade em que vivemos. 

Evidentemente, temos de tomar todo o cuidado com o corona, mas sabemos que os vírus do ódio, da intolerância, da xenofobia, do racismo, do machismo e da discriminação social matam mais do que essa pandemia atual. Em nossas cidades, diariamente se assassinam jovens negros nas periferias. As estatísticas denunciam que os feminicídios têm aumentado. E a fome, provocada pela iniquidade da desigualdade social, provoca mais enfermidades e morte do que qualquer um desses vírus estranhos que, de vez em quando, assolam o mundo. Para o coronavírus estão se buscando vacinas. Em Cuba, o uso do interferon tem ajudado como preventivo. Para os vírus mais profundos que destroem em nós o que nos torna humanos só existe uma vacina: o amor solidário. A opção de que a vida é para ser convivência e comunhão tem de ser sorvida e experimentada até a última gota. Sem nenhum medo. Amor não mata. 

Daqui a alguns dias, vamos celebrar a Páscoa. Nas comunidades judaicas se chama “a festa da nossa libertação”. No Cristianismo, o centro de tudo é a proclamação de que Jesus ressuscitou. Em um mundo como o nosso, afirmar que Jesus ressuscitou é testemunhar que o amor é maior do que a morte e o bem-viver mata todos os vírus da indiferença em relação aos outros e do desamor. Vamos, então, com cristãos e com toda a humanidade, reafirmar que, como escreveu o profeta João, “nós somos as pessoas que cremos no Amor”. 






 

Edição: Monyse Ravena