Junto com luvas, óculos e toucas, as máscaras de tecido tem sido uma importante ferramenta de proteção e diminuição do contágio do coronavírus. Inicialmente, as máscaras vinham sendo aconselhadas apenas para profissionais de saúde que lidam todos os dias com casos suspeitos e confirmados da covid-19 e outras Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG), como a H1N1, e também para pacientes que apresentam sintomas relacionados a essas doenças, já que a máscara, se utilizada da maneira correta, pode frear a disseminação do vírus, presente principalmente em fluidos como a saliva.
Contudo, com avanço dos casos em todo mundo, algumas medidas têm sido intensificadas. A China, que tem liderado as pesquisas em torno de novas formas de parar a disseminação do vírus está avaliando a possibilidade de alterar a recomendação do uso das máscaras. George Gao, diretor-geral do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças, apontou em entrevista à revista Science que muitas pessoas que estão com o vírus, mas não apresentam sintomas, podem evitar o contágio de outras pessoas com máscaras “Muitas pessoas têm infecções assintomáticas ou pré-sintomáticas. Se eles estão usando máscaras, pode impedir que gotículas que transportam o vírus escapem e infectem outras pessoas” ressalta.
É a partir dessa orientação que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que já vem através do projeto “Mãos Solidárias” realizando ações como distribuição de marmitas para a população em situação de rua e de cestas básicas em comunidades periféricas agora passou a confeccionar máscaras de TNT para distribuir em unidades de saúde e hospitais de referência. Com uma opinião baseada nos materiais publicados na China recentemente, que ainda são polêmicos a respeito do tema, a médica sanitarista e doutora em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Paulette Cavalcanti reafirma que as máscaras são mais efetivas do que nenhuma proteção “isso se você pensa pela dimensão da contaminação no transporte, manuseando dinheiro, produtos em supermercados... Um conjunto de artigos científicos aponta que essas máscaras podem reduzir entre 70% e 90% a possibilidade de contaminação do vírus, superior ao não uso, que é zero. A máscara deveria ser utilizada sempre em casos de contato de humano fora de casa, onde não é possível saber sobre os cuidados de higiene do local”, explica.
Moradora de Brasília Teimosa, a costureira Sarah Araújo começou a confecção há algumas semanas apenas para os familiares que fazem parte do grupo de risco. Agora, com a iniciativa da distribuição das máscaras, sua casa virou uma parte do centro de produção “Aqui em Brasília Teimosa somos cinco pessoas. Três fazem o corte e eu Graça, a outra costureira, finalizamos o trabalho. Eu passo a noite costurando, porque as meninas vem deixar os cortes, eu costuro e outra pessoa vem aqui só buscar, então cada uma faz sua parte em casa, sem se juntar”, explica. Todo o material das máscaras veio através de doações financeiras para o Mãos Solidárias, que junto com a Marcha Mundial das Mulheres (MMM) e o Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), vem coordenando toda a logística de produção e distribuição.
A ação, além de refletir a preocupação das organizações com as pessoas que vivem nos territórios de atuação também abarca a preocupação com os profissionais de saúde que estão na ponta, como afirma a médica “Ainda no começo do isolamento, as pessoas, especialmente profissionais de saúde, estavam bem preocupadas em serem vetores da doença para suas casas, então a ação tem uma questão humana. Além disso, estamos cogitando a possibilidade de remunerar as costureiras, como forma de garantir renda para elas nesse período”. Para Sarah, a contribuição tem sido gratificante “Me sinto ótima ajudando. Eu já tinha feito para meu marido, que faz hemodiálise e vai sempre no hospital, para alguns vizinhos, e agora estamos fazendo em quantidade. Mas estou muito grata, o que eu puder fazer para ajudar, eu vou fazer”.
Cuidados e Higiene
Paulette explica que não é apenas o uso da máscara que é decisivo para evitar o contágio, mas também a forma como ela é utilizada. Para ilustrar a disseminação do coronavírus, ela faz uma analogia com o talco “imagine que alguém borrifou talco no seu rosto com a máscara. Isso significa que tudo ali está contaminado, então as mãos precisam ser lavadas antes de colocar a máscara, ela deve estar bem ajustada no nariz, nas laterais e no queixo para evitar a passagem de ar para nariz e boca. Se o ar passa ali, o vírus passa também. Não é efetivo colocar a máscara e ficar abaixando ela para o queixo, passar a mão na parte de fora dela e depois levar as mãos aos olhos, por exemplo”.
A forma de retirar a máscara também é decisiva “na hora de retirar, o ideal é tirar puxando a parte das orelhas ou afastar para a parte de trás da cabeça, no caso das que precisam ser amarradas, e você vai enrolando ela pelo avesso, de forma que o lado contaminado, que ficou em contato com o ar fique para dentro e o lado que estava em contato com o seu nariz e boca fique para fora. Jogue a máscara num lixo que tenha pouco contato e aí também lava as mãos após retirar e se tiver alguma dúvida, lavar o rosto”. No caso de outros tipos de máscaras, que são reutilizáveis, ela indica para a confecção a mistura de tecidos sintéticos e naturais, o que ajuda a fazer uma barreira mais eficiente e a higienização deve ser feita com sabão neutro, e se possível, água sanitária, para garantir a desinfetação completa do material para o próximo uso.
Edição: Monyse Ravena