Pernambuco

Veneno

Helicóptero lança agrotóxico sobre área rural de Jaqueira, mata sul de Pernambuco

Camponeses da região apontam a empresa Agropecuária Mata Sul S/A como possível responsável

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Captura de tela de vídeo em que moradores registram momento em que helicóptero sobrevoa área - Reprodução

Segundo moradores da área rural do município de Jaqueira, na mata sul do estado, há dois dias que um helicóptero tem realizado vôos rasantes e despejado agrotóxico sobre a região. Ainda de acordo com eles, a aeronave provavelmente pertence à empresa Agropecuária Mata Sul S/A, que, desde 2017, viria atacando as plantações, fontes de água e a integridade física dos próprios camponeses. 

O interesse desta empresa seria intensificar na região a criação de gado. Em compensação, após este ato, o veneno, lançado no território da própria empresa, tem contaminado inúmeras pequenas plantações de banana, milho e macaxeira vizinhas ao terreno.

As comunidades mais atingidas foram Barro Branco, Várzea Velha e Fervedouro. Os vôos da morte lançaram uma enorme quantidade de veneno nas plantações, a 500m de distância das residências dos posseiros. Ao todo, são mais de 1200 famílias na região. Eles relatam que vêm sentindo intenso desconforto por causa do cheiro forte. Muitos sentiram enjoos, dores de cabeça e tontura. A maior preocupação deles, no momento, é com os recém-nascidos, expostos a uma substância química tóxica e desconhecida. 

O helicóptero realizou o primeiro ataque na tarde da terça-feira (07), com foco nas comunidades Engenho Barro Branco, Fervedouro, Caixa D’água e Laranjeiras. Na manhã desta quarta-feira (08), ele voltou a jogar o produto nas plantações. De acordo com informações de Geovane José, agente pastoral da Comissão Pastoral da Terra na região, foram cerca de três horas de vôos nesta manhã. Alguns moradores afirmam que não perceberam nenhum produto caindo da aeronave nesta segunda investida. 

As lideranças das Associações locais procuraram, na manhã de hoje, a delegacia de Jaqueira para formalizar um Boletim de Ocorrência, mas não conseguiram concluir o procedimento. Eles foram orientados, inicialmente, a procurar o Batalhão de Palmares. Em seguida, a prestar queixa pela internet ou redigir um documento relatando a denúncia, assinado por uma representante do grupo. 

“Eles não conseguiram concluir o B.O. porque a orientação é evitar aglomeração na delegacia e as equipes estão reduzidas por causa do coronavírus”, explicou o agente pastoral.  Até o fechamento desta matéria, a Secretaria de Defesa Social (SDS) não tinha atendido nossas ligações para confirmar se este é realmente o protocolo de atendimento durante a pandemia do coronavírus. 

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) também está tomando providências sobre o caso. De acordo com informações da assessoria, a CPT deve encaminhar uma denúncia aos principais órgãos competentes e cobrar punições aos responsáveis por crime ambiental. 

Os líderes de associação de moradores estão articulando a elaboração de um documento para encaminhar ao fórum da comarca de Maraial. O objetivo desta ação é conseguir, via acordo judicial, uma pacificação na região. “A nossa vontade é cessar estes ataques contra os camponeses”, relatou Antônio Cícero, Secretário da Associação de Moradores e Agricultores de Sítio Grande e Barro Branco

Histórico
Segundo os moradores e a assessoria da CPT, a Agropecuária Mata Sul S/A tem um histórico de confronto com os posseiros nos engenhos da região. Há aproximadamente 15 dias, os moradores da região voltaram a ser vítimas da ação desse grupo. Desta vez, eles tentaram cercar uma área onde estão a fonte água da região. Os camponeses reagiram e conseguiram impedir o cercamento. Ao todo, foram duas tentativas de cercamento em uma semana. 

Edição: Marcos Barbosa