Pernambuco

AQUI PRA NÓS

Paulo Mansan: “A solidariedade ajuda a transformar a realidade”

Segundo episódio do programa, com tema “Solidariedade em Tempos de Pandemia”, entrevistou o dirigente estadual do MST

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Mãos Solidárias distribui mais de 1500 marmitas por dia, tudo feito a partir de doações - Mãos Solidárias

Foi ao ar na noite desta terça (07) o segundo episódio do programa Aqui pra Nós. Com o tema Ações de Solidariedade em meio à Pandemia, Iyalê Tahyrine e Phillyp Mikell entrevistaram Paulo Mansan, dirigente estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Pernambuco, que vem coordenando o projeto Mãos Solidárias, que agrega grupos e movimentos populares para realizar ações de distribuição de alimentos e máscaras descartáveis em Recife. O programa vai ao ar todas as terças no YouTube, sempre a partir das 19:30h e pode ser assistido na íntegra clicando aqui. Confira os principais tópicos da conversa: 

Solidariedade e consciência de classe 


Para Paulo, “a solidariedade é uma resposta às contradições que existem na sociedade, Mesmo de forma pontual, o Mãos Solidárias é um bom exemplo. O MST, que está inserido ali naquela realidade, viu pessoas em situação de rua passando fome e mesmo com uma base de acampados e assentados que em alguma medida também estão em vulnerabilidade, nós decidimos fazer algo. Porque nós estão fazendo essas ações? Porque essa ação entra no nosso horizonte de luta, que lutar para que essas pessoas tenham direito à moradia e a alimentação no futuro” projeta.


O Armazém do Campo, iniciativa do MST que vem sendo a sede das ações fica no centro do Recife, no bairro Santo Antônio, que tem um elevado índice de pessoas que moram na rua, pois como Paulo explica “ninguém tem como opção estar na rua, elas são empurradas para aquela situação”. Em Recife, a Secretaria de Assistência Social estima que existam cerca de 1.700 pessoas em situação de rua, com um número considerável que é atendida por grupos solidários e de assistência social, que faziam sopas e cafés da manhã diariamente e pararam de fazer devido à falta de estrutura de saúde para lidar com a pandemia de coronavírus, “nós já tínhamos uma relação com algumas pessoas ali dos arredores e como vimos a necessidade, dialogamos com as organizações da Frente Brasil Popular, setores da Igreja Católica, o grupo Unificados pela População em Situação de Rua, porque os grupos que faziam essas ações se juntaram. Nós começamos com o plano de 50 marmitas por dia e hoje são mais de 1500, tudo com doações. A equipe do Armazém do Campo faz as marmitas, e o grupo de voluntários faz a distribuição pelas ruas”. 


Além disso, o Mãos Solidárias tem crescido no número de iniciativas e de cidades alcançadas, com a confecção de máscaras descartáveis, com um grupo de mulheres costureiras em Caruaru, junto com o Setor de Saúde do MST, a Marcha Mundial das Mulheres e o Movimento dos Trabalhadores por Direitos (MTD), que tem a meta de fazer 50 mil máscaras descartáveis, uma iniciativa que o dirigente qualifica como necessária diante da crise de abastecimento “Estamos vendo os Estados Unidos confiscando máscaras e nós aqui estamos nos articulando para distribuir para as pessoas mais necessitadas e para profissionais de saúde”. 


No Recife, o projeto também está distribuindo cestas básicas junto com o grupo Um Novo Jeito, tendo a meta de distribuir mil cestas em bairros como o Coque, Brasília Teimosa, Peixinhos, onde as doações já iniciaram. Na cidade de Caruaru, no Agreste, onde o movimento também possui uma sede do Armazém do Campo, estão sendo distribuídas cerca de 200 marmitas durante o almoço e em Petrolina, no Vale do São Francisco, um grupo de voluntários vem se organizando para iniciar a distribuição neste fim de semana. 
Já em Olinda, cerca de 200 marmitas estão sendo distribuídas para a  população em situação de rua na zona central da cidade. Paulo ressalta que para além da iniciativa em ajudar “é essencial manter a organização e a articulação entre os grupos que distribuem, porque podemos fazer uma ação mais organizada e justa nos bairros do que concentrar tudo em uma zona só”. 

Voluntariado


O movimento está atuando em várias frentes, então é possível ajudar de diversas formas, mas conforme as recomendações de saúde, como o dirigente explica “precisamos de muita gente, mas sem aglomerar, como estamos fazendo, com tudo conforme as recomendações do nosso Setor de Saúde (MST). Confecção de comida, máscaras, cestas básicas, arrecadar doações, distribuir… precisamos de voluntários para tudo isso e quem tiver interesse em nos ajudar nessa luta pode entrar em contato conosco a partir das redes sociais do armazém do campo, como o Instagram @armazemdocamporecife. A solidariedade é um dos gestos humanos mais bonitos, quando não é só caridade, que entende quais as causas, ajuda, mas que pensa em como transformar a realidade”.

Solidariedade e Unidade


“Hoje lançamos a plataforma Vamos Precisar de Todo Mundo, que reúne as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo e os movimentos populares para pensar nessas ações tão importantes, mas que exigem muito cuidado. É importante cadastrar as ações na plataforma para termos um mapa das iniciativas e tentar atuar de forma mais ampla e descentralizada possível. O que cada pessoa pode fazer pra ajudar? os grupos de risco, por exemplo, mesmo em reclusão podem ajudar nas redes sociais, tem pessoas arrecadando alimentos em portarias de prédios. Essa ação é fundamental para que a classe trabalhadora saia fortalecida”. 

Paulo reafirma que a solidariedade tem assumido um caráter de classe, “nós nos demos conta que vamos de fato, precisar de todo mundo que puder ajudar nessas ações emergenciais para a população brasileira. Se o povo tá passando fome, então vamos resolver esse primeiro problema. O que temos percebido é que as pessoas dos bairros ali nos arredores, no Pina, Santo Amaro, Pilar, Coque, que também estão passando fome acabam sendo um público alcançado para as marmitas. Se os grandes restaurantes não estão lá, os próprios beneficiados se questionam porque as grandes empresas não têm se movimentado e organizações como o Movimento Sem Terra centrou as forças em ajudar esse povo que passa fome”.


Armazém do Campo


Com as mudanças para garantir as ações de solidariedade e a venda dos produtos agroecológicos, Mansan afirma que “o armazém virou um espaço ainda maior do que já era, porque fomos criando pontes de solidariedade e porque as pessoas sabem que se quiserem ajudar, o local pra se engajar é lá. Nossa antiga estrutura virou uma grande cozinha industrial, com mais fogões, mais freezers, tudo para dar conta da demanda que vem surgindo. Nós seguimos com a venda de alimentos orgânicos e agroecológicos, agora temos o telefone (81) 996734327, onde estamos fazendo as vendas online e fazendo com a entrega em casa, tudo como sempre fizemos, com alimentos agroecológicos, sem veneno e saudáveis. 

Parceria 


De acordo com Paulo, as ações não eximem a responsabilidade do Estado em fazê-las, mas as atividades vem no sentido de complementar ações que já estão sendo feitas pelos governos “Estamos em parceria com a prefeitura, porque a PCR se responsabiliza por dar o almoço para essa população e o MST complementa com o café e o almoço. A PCR vem nos dando um suporte, especialmente com as embalagens da marmita, que são essenciais e tem um custo elevado, e estão ficando difíceis de achar. O que o governo tem feito é um ponto de cuidado no Armazém Catorze, com trailers de higienização, alimentação e orientações de cuidados de saúde para a população em situação de rua”.  


Semana Santa 


“Nós temos ouvido muitos relatos impactantes. Essa semana a gente ouviu um relato de uma moradora que falou que depois que passamos a distribuir as refeições, ela havia parado de se prostituir pra comer. Esse é um dos vários relatos que os voluntários ouvem todos dias. Esse Jesus que está no meio do povo se materializa nessas ações que estamos fazendo e para a Semana Santa estamos nos organizando para distribuir as máscaras e preparar uma refeição especial para o pessoal”. 


Hospitais de Campanha


O MST colocou no último dia 30 à disposição do governo estadual o Centro de Formação Paulo Freire (CFPF), no Assentamento Normandia, em Caruaru, para servir como hospital de campanha para os pacientes diagnosticados com a COVID-19. A decisão foi formalizada em ofício e é um reforço para o Sistema Único de Saúde (SUS) dar conta do número de pacientes infectados em Pernambuco “todas as estruturas que o MST tem estarão a serviço do povo brasileiro, como o caso do CFPF, que como hospital de campanha pode abrigar cerca de 500 leitos, e que inclusive vinha sendo ameaçado de despejo. Esta é uma movimentação nacional, como uma destilaria do MST que está produzindo álcool gel, a doação de arroz orgânico das famílias assentadas na região do sul, que inclusive vai chegar aqui. Nós não fazemos sozinhos, essa grande onda de solidariedade seria impossível sem nossos parceiros do campo, como a FETAPE, o Sabiá, a ASA, que atuam no campo. Além de distribuir alimentação, estamos tendo essa preocupação em servir uma alimentação de qualidade, agroecológica e que vai nutrir esse povo todo”, afirma Paulo.


Apoio


Paulo reforça a importância das doações, que é o que vem possibilitando as atividades. A primeira coisa é essa ação do voluntariado; a segunda é doar produtos, um dos que mais estamos precisando é água mineral, porque junto com cada refeição damos uma garrafa de água para que as pessoas possam matar a sede e a última forma é com as doações financeiras, que estamos recebendo com os seguintes dados:

Associação da Juventude Camponesa 
Nordestina – Terra livre
Banco do Brasil
Agência : 0697-1   RECIFE
Conta corrente :58892-X
Cnpj: 09.423.270/0001-80

Edição: Monyse Ravena