Pernambuco

PANDEMIA

Em Pernambuco, cidades de pequeno e médio porte se preparam para pico do coronavírus

Prefeituras têm se movimentado em iniciativas como hospitais de campanha e distribuição de máscaras

Brasil de Fato | Recife (PE) |
As pequenas cidades vem pedindo atenção do poder público para enfrentar a pandemia de covid-19 - AMUPE

Hospitais de campanha, equipamentos, restrições a aglomerações e muitas outras iniciativas vêm sendo tomadas nas cidades de todo o país para combater o coronavírus. Se nas capitais e grandes cidades a urgência da necessidade chama atenção, uma preocupação crescente vem se formando em relação às cidades de pequeno e médio porte. Em Pernambuco, do total de 184 municípios, 65 destes e o arquipélago de Fernando de Noronha já tem casos confirmados da doença, de acordo com o último Boletim covid-19. Com pouca estrutura de saúde, algumas com estradas de difícil acesso e uma dificuldade de convencimento da população, as pequenas cidades vem pedindo atenção do poder público para enfrentar a pandemia de covid-19. 

A cidade de Paudalho, que fica a 37km do Recife, tem pouco mais de 50 mil habitantes. Lá, a prefeitura da cidade decidiu confeccionar e distribuir máscaras para toda a população. Cerca de 120 mil máscaras já estão em produção e a entrega será feita a domicílio através de agentes comunitários de saúde. No agreste, o município de Feira Nova, que tem cerca de 22 mil habitantes, está concluindo a montagem de um hospital de campanha com 11 leitos, que contará com profissionais capacitados e ventiladores pulmonares. Barreiras e fiscalização na entrada das cidades, entrega de cestas básicas, instalação de pias em locais públicos, sanitização de ruas e feiras livre e diversas outras iniciativas vêm sendo organizadas nas cidades para conter o avanço do vírus, que já matou mais de 150 pessoas no estado.  

“Se nos tratamentos de rotina os pequenos municípios já não tem estrutura, o que é uma dificuldade de todo o Brasil, imagine nessa situação que exige mais cuidados. Estamos trabalhando nas cidades de pequeno porte que tem rede hospitalar com os leitos de retaguarda até nas clínicas particulares, mas a depender das condições do paciente e da rede de saúde, o mais indicado é a transferência para hospitais de referência” explica José Patriota, prefeito de Afogados da Ingazeira e presidente da Associação Municipalista de Pernambuco (AMUPE), que vem coordenando diversas iniciativas de prevenção e combate ao coronavírus nos municípios. 

Cidade com rede de saúde de referência para os municípios da região, Petrolina já possui casos confirmados de covid-19. Pedro Carvalho, chefe de divisão médica do Hospital Universitário da Universidade Federal do Vale do São Francisco, que vem atendendo casos graves de coronavírus, reforça que mesmo as cidades maiores podem não dar conta da quantidade de internamentos “É uma questão difícil, porque a escassez de leitos de UTI nos serviço público brasileiro é preocupante. Um leito não é só uma cama, necessita de um conjunto de profissionais, equipamentos, insumos que nem todas as cidades tem. Se tratando de um cenário como estamos vendo em outros países, é muito possível que ainda não estejamos preparados para a demanda”. 

Na fase de aceleração descontrolada dos casos no estado, o que está acontecendo é uma corrida contra o tempo para evitar um colapso na rede de saúde tanto na capital, que vem abrindo diversos hospitais de campanha com novos leitos, tanto no interior. Patriota ressalta que verbas de fundos municipais, emenda parlamentares e de outras vias já estão sendo acionadas, como a recomposição do Fundo de Participação dos Municípios, que pode chegar aos R$ 90 bilhões de reais, o que são os primeiros passos para equipar o Sistema Único de Saúde, mas ainda há outros obstáculos “Mesmo com dinheiro, quem quer implantar leitos não está conseguindo, porque não encontra equipamentos, não encontram pessoal, porque precisa de equipe especializada. O mercado não tem equipamento, mesmo com tantos projetos os equipamentos ainda não estão sendo produzidos. Os municípios vem fazendo um esforço grande, criando leitos na medida do que é possível nessas condições”. 

Para Pedro, o momento pede colaboração da população, o que é central para evitar o colapso na saúde e o crescimento no número de pessoas infectadas e óbitos “Como profissional de saúde, pessoalmente, a situação é desgastante e a rotina é estafante, porque exige uma dedicação física e mental dos profissionais. A população pode ajudar principalmente ficando em casa, isso é o principal, mas também não disseminando notícias falsas, notificando os órgãos de saúde caso esteja com sintomas e seja orientado a como agir e fazer o teste, não comprar Equipamentos de Proteção Individual que não são necessários, porque pode faltar para quem realmente precisa”. Patriota reforçou que os municípios vem cumprindo as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e os decretos do Governo do Estado, mas os desafios persistem, sendo o maior deles justamente o de construir condições para que os municípios enfrentem a pandemia “a maior dificuldade é o equilíbrio financeiro aliado à estruturação da prevenção e do combate, que são coisas diferentes, mas complementares” conclui.

Edição: Monyse Ravena