No Dia Nacional da Caatinga, as comemorações dão espaço à conscientização sobre a importância do bioma que é 100% brasileiro, ou seja, a maioria do seu patrimônio biológico não é encontrado em nenhuma outra parte do mundo. De origem tupi, a palavra caatinga quer dizer mata branca, uma das principais características da sua vegetação, que se preserva durante o período de estiagem e volta a ficar verde ao menor sinal de chuva. Mesmo diante da riqueza deste bioma, as estatísticas são preocupantes: de um total de aproximadamente sete milhões de hectares mapeados, apenas 46,89% apresenta hoje cobertura florestal, ou seja, mais da metade, 51,06%, foi convertida em áreas para usos agrícolas e pastagens.
A estatística faz parte do projeto “O Papel da Restauração Ecológica na Sustentabilidade da Caatinga”, realizado pelo Laboratório de Ecologia Aplicada da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em parceria com professores e pesquisadores convidados. Joaquim Freitas, coordenador de projetos do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan), aponta que o alto percentual de desmatamento tem várias motivações “Não há um único motivo para o desmatamento da Caatinga, mas existe uma série de cenários que podem ser considerados. Dependendo do local, nós verificamos um desmatamento muito relacionado à situação socioeconômica das famílias, já que em algumas regiões a população é parcialmente ou totalmente dependente dos recursos naturais da Caatinga; mas existe um outro lado que são as propriedades que fazem a retirada de mata para expandir áreas agrícolas e de pasto”.
A degradação do bioma tem impactos não apenas para a fauna e flora, mas para a população da região, já que cerca de 27 milhões de pessoas vivem em áreas de caatinga e com a preservação podem ter impactos positivos na áreas de sustentabilidade hídrica, alimentar e energética. Além disso, a vegetação cumpre um papel importante na prevenção de enchentes e enxurradas nas áreas urbanas, especialmente neste período onde começam as chuvas na região. Joaquim alerta que as áreas que deveriam ser preservadas para diminuir os efeitos negativos estão em risco “A vegetação tem uma série de benefícios para mitigar os efeitos tanto os efeitos de enchentes, quanto após essas enchentes para melhorar a recarga de lençóis freáticos. Por isso existem as Áreas de Preservação Permanentes (APP’s), que previnem a força das enchentes e diminuem o assoreamento dos rios. Infelizmente, apenas 30% dessas áreas estão ocupadas por florestas aqui em Pernambuco”.
Diante do cenário de degradação acelerada deste bioma num contexto de flexibilização das leis ambientais, o reflorestamento é uma tarefa urgente. No estado, uma das zonas que está mapeada para receber ações de reflorestamento é a Chapada do Araripe. O plano de reflorestamento de cerca de 100 hectares vem sendo organizado pelo Cepan em parceria com outras instituições, como o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). Ainda assim, os resultados do reflorestamento são colhidos a longo prazo, o que exige um esforço coletivo e imediato dos órgão competentes, como declara Joaquim “Existe uma série de iniciativas de reflorestamento em curso, mas elas ainda são muito pequenas. A prioridade agora é iniciar pelas áreas que segundo a pesquisa, podem gerar mais benefícios ambientais e sociais para a população daquela região. A população pode demorar a sentir esses primeiros benefícios, mas eles geralmente são notados a partir de cinco ou seis ou até anos do início da atividades de reflorestamento, com benefícios diretos”. Dessa forma, o projeto tocado pelo centro vem para contribuir neste sentido, produzindo um documento que servirá como base para a discussão em diversos níveis, possibilitando a aplicação de políticas públicas voltadas a recuperar a Caatinga.
Edição: Monyse Ravena