Nesta terça (28) o terceiro episódio do programa "Aqui pra Nós" abordou como o machismo pode piorar as condições de vida das mulheres no contexto de pandemia da covid-19. A entrevistada foi Sonia Coelho, dirigente da Marcha Mundial das Mulheres. O programa vai ao ar ao vivo todas as terças, ás 19:30 no canal do Youtube do Brasil de Fato Pernambuco. Confira os principais temas da entrevista:
1º de Maio
Às vésperas do 1º de Maio, Sonia relembra que a conjuntura do mercado de trabalho já era difícil para as mulheres e se intensifica na pandemia. “Nós já estávamos vivendo num situação de desigualdade que era naturalizada. Nesse primeiro de maio temos que chamar atenção para esse aspecto da informalidade, da terceirização, que é onde estão as mulheres, a população negra, que muitas vezes não tem direito sequer à sindicalização”.
Para ela, a luta dos trabalhadores e trabalhadoras neste 1º de Maio é a mais difícil dos últimos tempos “Precisamos ter força para dar fim ao governo Bolsonaro e construir um projeto popular, antirracista e feminista. Para nós mulheres, desde a eleição a gente alertava a ameaça fascista e que esse homem não poderia governar. Neste ano encampamos o Fora Bolsonaro no 8 de março e seguimos unificados com movimentos populares e as centrais sindicais na luta contra Bolsonaro, porque precisamos pôr fim a esse sistema capitalista, machista e misógino” reforça.
Violência doméstica e isolamento social
Sonia ressalta que mesmo antes do início do isolamento social, os números da violência já vinham crescendo nesse contexto que ela caracteriza como o aprofundamento da crise do capitalismo neoliberal. O isolamento também intensifica a relação de violência, algo que já é alertado pelo movimento feminista e pelas estatísticas da violência, que apontam que 42% dos casos de violência doméstica acontecem em casa, de acordo com uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) feita no início de 2019.
Subnotificação
Com a dificuldade de procurar os serviços de atendimento à mulher, a situação de subnotificação é uma realidade nos estados. Mesmo que os serviços estejam funcionando, as mulheres se sentem coagidas a se manter em silêncio, dada a dificuldade fazer uma ligação com o seu agressor dentro de casa ou furar o isolamento para denunciar e correr o risco de ser contaminada com a covid-19. Sônia relata que em muitos casos “quando elas chegam no serviço, elas já estão muito agredidas fisicamente, juradas de morte, muitas não tem como denunciar antes disso acontecer”. Ela também ressalta que as corporações e delegacias necessitam fazer o acolhimento necessário para que elas não desistam da denúncia e voltem para o ciclo de violência.
Denúncia
Nesse momento, a solidariedade também se estende ao movimento feminista “se você ouve algo na sua vizinhança, não hesite, ligue 190 e denuncie, porque você pode estar salvando uma vida”, alerta Sonia. Ela ressalta que comunicar os órgãos que cuidam do acolhimento às vítimas é a medida mais eficiente nesse momento. Em contrapartida, tem se notado um aumento de denúncias e relatos na redes, o que pode ter um efeito reverso de constrangimento da vítima e sua consequente penalização. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontou no mês de abril a queda no número de registros oficiais em alguns estados, ao mesmo tempo em que as menções às brigas de casal crescem 431% no twitter.
Em Pernambuco, é possível denunciar pelo 190, o contato da Polícia Militar, ou pelo 0800 281 8187, o contato da Ouvidoria da Mulher, que direciona as vítimas para os serviços da Rede de Atendimento de cada região.
Dupla jornada de trabalho e sobrecarga
Sonia afirma que a pandemia jogou luz sobre um problema antigo na vida das mulheres que têm vínculos de trabalho precarizados e já dividem a jornada de trabalho produtiva com a reprodutiva, executando trabalho doméstico e de cuidados em casa. Com uma renda baixa por estarem em postos de trabalho de baixa remuneração, a desigualdade social aprofunda ainda mais a sobrecarga das mulheres que estão tanto na linha de frente da pandemia, como as caixas de supermercado, trabalhadoras da área de saúde e serviços sociais, quanto as que estão em casa fazendo o cuidado de saúde, alimentação e higiene por toda a família “em casa ou no trabalho, são as mulheres que estão sustentando tudo isso. O que também observamos é um maior número de assédios e violência nas ruas, o que se intensifica com as ruas vazias, mal iluminadas e com transporte público precário”, como explica a dirigente.
Seguridade Social
O acesso ao Auxílio Emergencial também carrega a contradições de gênero, já que no Brasil são as mulheres que chefiam os lares, mesmo ocupando vagas de trabalho informal e que nesse momento perderam a chance de trabalhar, e como ela explica, “para quem está há mais de um mês passando necessidade, isso é urgente. Na MMM estamos fazendo um debate de que o período dessa renda precisa se estender, porque saindo dessa situação caótica de pandemia, a crise econômica vai se aprofundar e nós sabemos quem acaba pagando essa conta. Já ouvimos relatos de pais que cadastraram seus filhos como dependentes do auxílio e isso impede as mães, que são quem criam os filhos, de fazer o cadastro e acessar o benefício”.
Edição: Monyse Ravena