O dia das mães é, sem dúvida, uma das principais datas para o comércio. A data movimenta bilhões de reais e neste ano, com a pandemia do coronavírus, o prognóstico para as vendas não é bom, já que a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) projeta uma queda de 59,2% no faturamento real do setor e outras entidades falam e adiamento da data comercial. A verdade é que neste domingo, mais do que presentes, festas e homenagens, o momento é valorizar a presença e a união entre mães e filhos.
E quem mais entende o valor da presença nesta data são as profissionais da saúde. Por conta da pandemia do coronavírus, as mães médicas, enfermeiras, técnicas de enfermagem e de várias outras especialidades lidam com a tensão constante dentro dos plantões e em casa, com o risco constante de contaminação delas mesmas e da família. Contratada especificamente para trabalhar no combate ao coronavírus, a técnica em enfermagem e mãe de duas meninas Angela Santa Rosa atua em uma Unidade de Terapia Intensiva do Hospital da Restauração (HR), no Recife, e afirma a importância do cuidado “Tenho todos os cuidados possíveis, tudo que é pra ser feito eu faço. Com toda certeza tenho medo, peço proteção a Deus em todos os momentos. Fui chamada para trabalhar por conta da pandemia, passei no concurso da Secretaria Estadual de Saúde. Os plantões que trabalhei graças a Deus não tiveram nenhum problema”, comemora.
O medo não é à toa. Nessa semana, Pernambucano chegou aos 10 mil casos confirmados e 845 mortes por coronavírus. O estado, que tem um protocolo próprio para a testagem de profissionais de saúde, registra um alto número de profissionais infectados: 2532 profissionais tiveram os testes confirmados e precisaram se ausentar da linha de frente de combate ao vírus para cuidar da própria saúde. Além disso, a rede saúde já está no seu limite, com a taxa de ocupação dos leitos de UTI de 98%, sendo que na últimas semanas a Secretaria Estadual de Saúde registrou um aumento de mais de 400% nas internações de casos suspeitos da Covid-19, o que significa um crescimento de pacientes com a diminuição das equipes de saúde com o afastamento dos profissionais contaminados, o que gera uma maior carga de trabalho para os que ficam.
O ideal, para evitar que esses profissionais contaminem suas próprias famílias, seria mais do que isolamento em um cômodo da casa, mas morar longe da família durante esse período, o que não é a realidade da maioria dos profissionais, especialmente as mães e chefes de família, como é o caso da técnica em enfermagem Bárbara Sobrinho. Mãe de Felipe, de 27 anos; Gabriel, de 17 anos e Fernanda, de 15 anos, o protocolo para entrar em casa é repetido diariamente “Ao chegar em casa deixo tudo na área de fora pra ser higienizado e corro pro banheiro pra tomar outro banho, mesmo já tendo tomado um no hospital e coloco a roupa pra lavar. Tenho muito medo de trazer contaminação para casa”.
Esquecendo por alguns momento o medo e a incerteza, elas esperam que a data seja um momento de valorizar a família e quem está perto física ou virtualmente, como diz Ana Paula Costa Gomes, que atua há cinco anos como técnica de enfermagem no HR e é mãe de Carlos Manoel, de 28 anos; Marcos Paulo, de 26 anos; Ana Gabrielly, de 20 anos e avó de Arthur, de seis anos “Pra mim esse dia das mães vai ser muito diferente. Vou conseguir ficar com meus filhos, não com minha mãe, pois não quero que ela passe pelo risco de se contaminar. Também não quero que meus filhos se preocupem em sair pra comprar presentes, o meu maior presente é a saúde da minha família, quero que fiquem seguros. Dia das mães é todo dia”.
Quando questionadas sobre qual conselho elas dariam às mães e filhos nessa data tão atípica, as recomendações das profissionais se assemelham. Todas reafirmam que o essencial agora é valorizar a presença com o cuidado coletivo, como reforçou Ana Paula “a preocupação agora é em se cuidar, se amar, ter respeito um pelo outro. É mais importante ficar em casa do que nas ruas ou de loja em loja se arriscando”. Bárbara reafirmou que o momento em casa pode ser aproveitado para ter mais contato com os filhos “que aproveitemos esses dias de quarentena para dar mais atenção aos filhos. Curtam seus filhos, aproveitem esse tempo pra isso”. Angela, que vai estar presencialmente junto dos filhos e com o restante da família através de videochamada, diz que nesse dia das mães e festa será de celebrar o amor diante do momento difícil “Vou passar junto com minhas filhas, elas são minha vida. Os familiares só videoconferência por enquanto. Aproveitem cada segundo, minuto e hora para falarmos o quanto amamos uns aos outros, pois não sabemos o que será do amanhã”.
Edição: Monyse Ravena