Na última sexta (08), profissionais de saúde de diversos programas de residência multiprofissional, incluindo o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família do Campo (REMSFC) da Universidade de Pernambuco (UPE), lançaram uma nota pública em repúdio e questionamento ao Ministério da Saúde sobre o atraso no pagamento das bolsas-salários da turma 6 do programa. Nesta segunda (11) os profissionais de todo o país entram na paralisação total das atividades por tempo indeterminado, já que a primeira orientação do Ministério, que era de esperar pelo pagamento até o quinto dia útil do mês de maio, não se cumpriu. O atraso impacta 60 programas e cerca de 10 mil residentes de todo o país.
Em Pernambuco, por meio de nota divulgada, o coletivo afirma que 20 profissionais estão sem receber a remuneração desde março, o que vem dificultando as condições de vida desses residentes, inclusive porque alguns vêm de outros estados e agora estão com problemas para manter despesas básicas como moradia e alimentação. Uma das pessoas afetadas com o atraso é a enfermeira Amanda Dantas, que é de Caruaru e hoje atua na comunidade quilombola do Caluete, em Garanhuns. Ela explica a importância do pagamento não só para os custos de vida, mas para a atuação profissional: “A gente fica sem poder custear transporte, porque os quilombos ficam na zona rural e vamos por nossa para o local, alugando veículos. O não recebimento impacta o aluguel, alimentação e, principalmente, a compra dos Equipamentos de Proteção Individual para atuar na área durante a pandemia”.
Os profissionais, que são de áreas diversas, como enfermagem, fisioterapia, farmácia, assistência social, psicologia e outros, têm um papel de prevenção ao coronavírus nessas comunidades rurais, como explica a enfermeira: “Nós atuamos na Atenção Primária à Saúde, próxima à comunidade, para levar promoção e prevenção à saúde, especialmente nesta pandemia. Estamos levando informação, o que é o carro chefe agora, porque a maioria das pessoas não têm acesso. A gente tenta não superlotar as redes de média e alta complexidade de saúde, informando sobre o isolamento domiciliar, quando ficar em casa, quando ir ao hospital e mapeando os casos suspeitos e confirmados”.
Na nota, os residentes relacionam o atraso no pagamento a um contexto maior de ataques ao Sistema Único de Saúde (SUS): “A postura neoliberal do Ministério da Saúde ao ir contra toda a lógica sanitarista e de prevenção ao coronavírus para entender aos interesses corporativos e empresariais mostram que o problema não é financeiro, e sim político e genocida, apropriando-se desse momento crítico para intensificar os ataques às políticas públicas e direitos conquistados historicamente pela classe trabalhadora e aprofundando ainda mais o processo privatização e de sucateamento do SUS”. Na tentativa de pressionar o poder público, os profissionais fizeram um protesto no Ministério da Saúde, que ainda não fez nenhuma declaração pública sobre o tema.
Edição: Marcos Barbosa