O capitão responsável por prestar continência para a bandeira dos EUA é o maior inimigo da Pátria
Há 4 anos, em 12 de maio de 2016, a atual situação de ruptura democrática no Brasil se iniciava e era aberto no Senado o processo de impeachment contra Dilma Rousseff. O golpe contra as forças democráticas e progressistas se materializava para, 3 meses depois, ser implementado com a deposição definitiva de Dilma da presidência do Brasil. Sem qualquer prova de crime de responsabilidade em seu desfavor, a ex-presidenta foi destituída do cargo com apoio de setores da classe média brasileira, principalmente da classe médica e do empresariado médio do País, sustentando por um discurso misógino e de anticorrupção, muito embora até hoje não haja qualquer comprovação de seu envolvimento em episódios dessa natureza.
Em nítida proteção de interesses do capital externo e do latifúndio, a mídia posicionou-se favoravelmente ao golpe que, posteriormente, culminou no aprisionamento de Lula e consequente impedimento de concorrer às eleições presidenciais de 2018. Antes da sua prisão, Lula dominava as pesquisas de intenção de voto e era cotado como o próximo Presidente da República.
Chegadas as eleições, os dois nomes que efetivamente disputavam o cargo era o de um professor e de um capitão reformado do exército que, com quase 30 anos na política, havia aprovado apenas 2 projetos de lei na sua trajetória e tinha possíveis ligações com a milícia do Rio de Janeiro. Mas as mesmas forças que haviam apoiado a destituição de Dilma do poder e a prisão de Lula, apoiavam também a eleição de Bolsonaro e a imposição de uma política neoliberal e armamentista no Brasil. Forças que pregavam a necessidade de que o Estado brasileiro não fizesse interferência no mercado e, por isso, afrouxasse as leis trabalhistas, privatizasse as empresas públicas e realizasse o desmonte dos serviços públicos, como o Sistema Único de Saúde.
Sem qualquer conteúdo ou projeto político para apresentar aos brasileiros, a candidatura de Bolsonaro deu-se através da propagação de notícias falsas (as Fake News) e a difamação da trajetória política do Partido dos Trabalhadores em uma tentativa de aniquilação da esquerda brasileira. Para justificar o voto em favor de alguém que representava o fim dos direitos dos trabalhadores, era necessário difundir o ódio à esquerda para impossibilitar o voto no PT.
Eleito – e diferentemente do que os democratas de direita previam, mas os setores progressistas de esquerda anunciavam – Bolsonaro não aliviou o discurso. Ao contrário, radicalizou ainda mais e permanece fazendo-o ao longo dos dias enquanto participa de mobilizações favoráveis ao fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional. O seu eleitorado fiel, por sua vez, repete seu discurso de necessidade de aniquilação da esquerda e continuidade da opressão por raça, orientação sexual, gênero e idade.
Em plena pandemia, Bolsonaro prega a normalidade econômica no Brasil e relativiza (ou melhor, desdenha) das mortes de milhares de brasileiros e da necessidade singular de proteção da saúde dos mais velhos e daqueles com comorbidades. Ironicamente, relativiza os riscos de contágio e de morte dos profissionais de saúde, mesmo que dentre eles estejam os próprios médicos que apoiaram a sua eleição.
A ruptura democrática tem linha temporal com marco inicial naquele 12 de maio de 2016. Embora tenha sido um processo inaugurado por vias institucionais e eleitorais, não se encosta apenas nelas. Apoia-se, também – e talvez principalmente – no esmagamento dos direitos e das garantias sociais das trabalhadoras e dos trabalhadores. No discurso de ódio e de aniquilamento do outro, característica inerente a qualquer regime fascista.
A democracia não é só eleição. Democracia é abertura nas vias institucionais de espaço para justiça social. É a defesa do direito de existir de quem não é maioria. É igualdade de direitos sem discriminação por gênero, raça, classe, orientação sexual e etnia. É a garantia do pluralismo político com o antagonismo de ideias. É a independência dos poderes com a defesa das instituições e da autonomia do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional. Todos esses pontos, diga-se de passagem, são incluídos na Constituição Federal como princípios fundamentais da República Federativa do Brasil (art. 1º, 2º e 3º da Constituição Federal).
Nota-se, por evidência das notícias e das falas de Bolsonaro, que hoje o capitão responsável por prestar continência para a bandeira dos Estados Unidos é o maior inimigo da Pátria. E a própria esquerda demonizada por ele e por seus seguidores desde 2016 é a força que carrega nas costas os valores constitucionais e o objetivo democrático de construir uma sociedade livre, justa e solidária.
Edição: Marcos Barbosa