Na última segunda-feira (11) os trabalhadores da Jeep, no município de Goiana, voltaram às atividades. A transnacional Fiat Chrysler Automobiles (Grupo FCA) deu férias coletivas no dia 28 de março, se estendendo por seis semanas. Ao retornarem, os trabalhadores receberam uma única máscara facial, modelo N95, além de terem álcool em gel à disposição dentro da empresa. Mas os funcionários consideram que, dada as necessidades de higiene, uma única máscara é pouco para passar as duas semanas.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco (Sindmetal-PE) afirma que a qualidade da máscara é fundamental, mas que passar dias com uma mesma máscara é irreal. “Ela pode até durar bastante, mas estamos lidando com diversas realidades de trabalho. Para quem atua em setores em que você não precisa correr e nem carregar peso, tudo bem. Mas é totalmente diferente para quem trabalha na produção”, alerta. Cada empresa do setor de metalurgia está lidando à sua maneira em relação aos cuidados de sanitários. A Gerdau, por exemplo, optou por distribuir um conjunto de máscaras para cada trabalhador, mas máscaras mais simples, de algodão.
Henrique Gomes afirma que entre os metalúrgicos empregados no setor automotivo, que em Pernambuco são 13 mil trabalhadores, a maioria integra o grupo dos trabalhos “pesados”. E destaca outra empresa do grupo FCA, que abrange a Jeep. “Uma máscara só para cada trabalhador da FCA Autopeças, em Jaboatão, é desumano. Eles suam muito na produção de autopeças, um trabalho que exige o limite do seu corpo, onde os trabalhadores adoecem muito. Uma máscara só para passar o dia? Não dá”, insiste. “Às vezes é melhor dar uma máscara de menor qualidade e dar um número maior de máscaras, que ajude a pessoa a trocar de máscara no turno”, sugere o metalúrgico.
Ele acrescenta que a necessidade de lavar diariamente a mesma máscara pode trazer riscos. “Ela tem que durar 15 dias, recebendo suor diariamente. As pessoas precisam lavá-las todos os dias, danificando as fibras, reduzindo sua eficácia”, lamenta. O líder sindical afirma que a entidade está produzindo um relatório junto a médicos e formulando propostas de adequação para as empresas. “Mas se for necessário, entraremos em contato com o Ministério Público do Trabalho (MPT) ou entraremos com ação judicial para a empresa garantir mais equipamentos de proteção”, afirma Gomes. “Independente da qualidade da máscara, qualquer situação de exposição gera preocupação. Mas é preciso uma atenção especial nesse quesito para os trabalhadores dos serviços pesados, que são a maioria”, completa Henrique.
O acordo
Os trabalhadores retornaram às atividades na Jeep na segunda-feira (11) e seguiram até esta quinta (14). Na próxima semana, novamente trabalham de segunda a quinta, completando o mês. Nestes dias a empresa tem funcionado com 85% ou 90% dos 4.974 trabalhadores, só tendo ficado em casa os que integram grupo de risco e a maior parte do setor administrativo está trabalhando de casa. Tomando por base a Medida Provisória 936, a empresa abriu diálogo com o Sindicato dos Metalúrgicos para um acordo para o retorno às atividades e as partes firmaram acordo no fim de abril. Neste mês de maio os funcionários darão apenas 8 dias de expediente, 30% do habitual (26 ou 27 dias, mantidas as 8 horas por dia).
O acordo salarial foi de manter o valor líquido em 100% (para a faixa salarial até R$1.500), caindo 5% nas faixas seguintes, até o desconto de 20% para os que recebem acima de R$10.500. Desses valores, o Governo Federal paga mais da metade e a empresa a outra parte. E o que foi considerado “a maior conquista” para os trabalhadores neste acordo foi a garantia de emprego para todos até 31 de dezembro de 2020. A proposta foi aprovada coletivamente em “assembleia virtual” do sindicato.
Edição: Marcos Barbosa