Com 215 casos confirmados de Covid-19, o bairro do Ibura, localizado na zona sul do Recife, é o quarto bairro com mais casos da doença na capital pernambucana, segundo o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Saúde do Recife. Devido à alta densidade populacional, que conta com 50.617 habitantes, segundo o IBGE, e a alta vulnerabilidade, os próprios moradores entraram em contato com a campanha Mãos Solidárias para falar da necessidade que o bairro apresentava.
O bairro foi a sede do Engenho Ibura no século 19 e hoje é dividido em Unidades Residenciais (UR's), Lagoa Encantada, Zumbi do Pacheco e Monte Verde, como suas principais microrregiões. Além disso, foi um importante ponto de desembarque de aviões durante a Segunda Guerra Mundial, o que deu origem ao Aeroporto Internacional do Recife/Guararapes – Gilberto Freyre. Como outras comunidades recifenses, o Ibura começou a ser habitado por diversas ocupações e até hoje enfrenta problemas devido ao descaso do poder público.
Assim, os moradores do Ibura fizeram o mapeamento das famílias em situação de vulnerabilidade para realizar entrega dos alimentos, na intenção de evitar aglomerações e, junto com os integrantes da campanha Mãos Solidárias, entenderam como deveriam ser divididos os alimentos, de acordo com o número de pessoas em cada família. Neste dia, em média 600 famílias foram contempladas na ação com a distribuição de 1 tonelada de alimentos “in natura” vindos dos assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e 500 cestas básicas feitas no Armazém do Campo do Recife.
A moradora e integrante do Levante Popular da Juventude, Flor do Gueto, afirma: “para mim foi muito importante a realização da ação Mãos Solidárias para ter o olhar mais afinado para o próximo”. A moradora faz parte do Recital Revolta da Periferia que promove intervenções artísticas feitas pelos próprios moradores e participou ativamente do planejamento e da distribuição. “Houve uma procura sobre o que era a campanha, sobre como poderiam ajudar e, principalmente, uma procura dos jovens sobre como que essa ação se constitui”, declarou Flor que percebeu o engajamento de toda a comunidade no processo.
A ação de solidariedade foi realizada com a colaboração do Sindicato dos Bancários de Pernambuco e sua então presidenta, Suzi Rodrigues, participou da entrega dos alimentos aos moradores cadastrados. "A gente tem trabalhado como sindicato cidadão, engajado em todas as lutas pela igualdade, pela equidade, pelo respeito à diferença, pela democracia e soberania", afirmou Suzi, que ontem (03/06) deixou suas atividades como presidenta do Sindicato para anunciar sua pré-candidatura.
Assim, a campanha trouxe alimento para os residentes, mas também mostrou que tudo aquilo é construído junto com eles e para o benefício deles, mostrando seu papel fundamental. Para o coordenador da produção de cestas básicas e Secretaria Operativa das Brigadas de Agentes Populares de Saúde do Mãos Solidária e integrante do MST, Phillyp Mikell, “o maior legado que podemos deixar é que a população compreenda que, estando organizada, é possível procurar e encontrar soluções para aquilo que eles vivenciam, para além do legado da solidariedade”. E esse legado de autonomia e organização é proposto aos moradores em forma de banco de alimentos, que passa a ser uma ação permanente de doação e distribuição administrada pela própria comunidade.
Famílias do Ibura receberam alimentos segundo critérios elaborados pela própria comunidade / Mãos Solidárias
Para quem tiver interesse em contribuir com as ações de solidariedade da campanha Mãos Solidárias, os pontos de doação são no Armazém do Campo (Av. Martins de Barros, 387 - Santo Antônio, Recife - PE, 50010-240). Para saber das outras iniciativas da campanha, como a confecção de máscaras e as equipes de voluntários na área de saúde, basta acessar o site da campanha.
Edição: Marcos Barbosa