Transparência é o mínimo que se pode esperar em tragédias desta magnitude
Omissão é uma palavra que define bem a postura do governo brasileiro com relação aos impactos da pandemia. A decisão por esconder o número total de casos e mortes por Covid-19 no Brasil, apesar de absurda, é bem representativa do governo. Hoje, o Ministério da Saúde nega que a intenção era esconder os números. Mas não é difícil reconstruir os fatos dos últimos dias, que evidenciam a tentativa.
O primeiro deles foi a declaração de Carlos Wizard, empresário que estava prestes a assumir uma secretaria no Ministério, afirmando que os números sobre a Covid-19 seriam "fantasiosos ou manipulados". O segundo, se refere ao atraso na divulgação dos dados oficiais, com posterior mudança na divulgação dos dados, que passaram a ser publicados apenas com casos e mortes nas últimas 24h, mas sem a totalização. No final das contas, tornou-se óbvio o esforço por parte do governo de esconder a realidade.
Apurações jornalísticas nos últimos dias apontaram que realmente era o desejo de Bolsonaro, e de militares que ocupam postos de comando no Ministério, maquiar as informações sobre a pandemia em nosso país. Mas a pressão, dentro e fora do país, foi tão grande que tiveram que recuar.
É preciso falar também que a omissão não se restringe à divulgação dos dados. Já no final de abril, notícias deram conta de que nem 25% do dinheiro que deveria ser utilizado no combate à pandemia havia sido executado até então. Tem mais: na semana passada, Bolsonaro vetou um repasse de R$ 8,6 bilhões aos estados e municípios para as ações de saúde.
Enquanto isso, seguimos a marcha do desastre anunciado. Entraremos no final de semana com mais de 40 mil mortes já registradas no país e não temos a menor perspectiva de qual o fundo deste poço, como tenho escrito semana após semana. Para além do descontrole nos números, começamos a acompanhar também o fenômeno da interiorização da pandemia no Brasil, com a chegada da doença em regiões com situação mais precária de acesso aos serviços de saúde. Não chegam a 10% os município brasileiros com leitos de UTI, sem falar na distribuição quase sempre com brutal desigualdade para capitais e regiões metropolitanas.
Apesar do recuo, infelizmente, não é mais possível acreditar em qualquer dado oficial. Ainda bem que existem veículos e plataformas sérias que nos alimentam com informações mais próximos da realidade. Transparência é o mínimo que se pode esperar em tragédias desta magnitude.
Edição: Marcos Barbosa