Em 2020, os casais vão comemorar o dia dos namorados de uma forma muito diferente do que estão acostumados. Devido à pandemia, todos os estabelecimentos permanecem fechados para as atividades presenciais, então não vai ter restaurante, cinema, bares ou qualquer outro local fora de casa para comemorar a data. E, em um período de isolamento social, os casais que não estão juntos vão ter que se contentar com uma chamada de vídeo, ao que eles estão cada dia mais acostumados. Mas não é porque os casais não estão fisicamente juntos que a data tem que ser menos especial.
A travesti Nêmesis Lima, estudante de licenciatura em Ciências Sociais, e a Marcos Antônio, estudante de licenciatura em Química e uma pessoa trans não binária, estão passando a quarentena juntas desde o início e vão poder passar o dia dos namorados lado a lado sem arriscar a saúde de ninguém. “Está sendo desesperador pela conjuntura atual do país, mas confortador ter alguém para dividir tudo isso”, afirmou a Marcos.
O casal, que completa três anos juntos no próximo mês, costuma sair para jantar ou ir ao cinema e explica a mudança nos planos. “Antes a gente tinha mais liberdade para planejar uma saidinha, algo para além do jantar, para além da casa e esse ano a gente teve que se adaptar para fazer tudo em casa” afirma Nêmesis, que não abriu mão da troca de presentes mesmo com a pandemia, e completa “eu tinha planejado uma surpresa, mas eu sou muito ruim de esconder e já dei o presente antes da data, mas ela tá me me matando na unha e não disse até agora” brinca.
Comemorar o dia dos namorados para elas é muito mais do que uma data comercial, mas a celebrar um relacionamento no mês do orgulho LGBT+, que mostra as diversas facetas do amor. “Não somos essa perspectiva de casal que a gente vê por aí nos comerciais, uma travesti namorando uma pessoa transsexual não-binária, porque isso não é bom para o sistema”, afirmou a Nêmesis, que completa, "para as travestis, as estruturas de relacionamento e de namoro, família e casamento não são uma perspectiva que a gente tem pelo sistema, mas a gente com essas novas leituras isso tem mudado".
Para Andrielly Gutierres, advogada e lésbica, e Beatriz do Espírito Santo, advogada e pesquisadora bissexual, a duas mulheres cisgêneras decidiram passar a quarentena juntas desde que as medidas restritivas passaram a ser obrigatórias, mas Beatriz teve que cuidar dos avós e, com isso, o casal precisou ficar distante e vai continuar assim até que as coisas se normalizem “a gente tenta se fazer mais presente por ligação e por chamada de vídeo, tentar fazer alguma coisa juntas, que não seja só contar o dia; mas assistir filmes, conversar sobre séries, isso é se fazer presente”, afirmou Andrielly, que completa “é o nosso primeiro dia das namoradas juntas, infelizmente nessas condições”.
Para o casal, furar o isolamento não é uma opção e não deveria ser para nenhum casal “o distanciamento é a única forma de enfrentamento que a gente possui, é difícil, mas é importante”, afirmou Andrielly. Se o encontro já foi descartado, o casal pensou num forma diferente de comemorar o amor "Existe uma delicatessen que a gente gosta muito, aí eu estou tentando mandar uma cesta de café da manhã para ela. E como eu não queria só dar a cesta, mas queria tomar café-da-manhã com ela, vai ser ela lá com a cesta e eu vou estar daqui com meu cuscuz com ovo marcando a pernambucanidade raiz", nos confidenciou Andrielly, que está preparando a surpresa.
Juntos ou separados, os casais estão aprendendo novos jeitos de estar perto e demonstrar esse sentimento que independe de presentes materiais e ir à algum lugar diferente. “Pra gente não é só dar o presente por dar o presente, mas fazer a data se tornar especial, é uma espécie de comemoração do namoro, da união”, afirmou Andrielly.
Edição: Vanessa Gonzaga