Na região da Zona da Mata Sul de Pernambuco, o município de Ribeirão tem se destacado negativamente durante esta pandemia pelo altíssimo índice de letalidade da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.  Os dados mais atualizados do município são da última quarta-feira (17), quando a prefeitura havia detectado 73 casos, dos quais 35 (48%) haviam resultado em morte. A altíssima taxa de mortes entre os diagnosticados indica uma baixa testagem no município.

A cidade de 47 mil habitantes apresenta um baixo índice de diagnósticos confirmados, que correspondem a apenas 0,15% da população. A taxa aparentemente positiva esconde o problema de uma grande subnotificação. Para fins de comparação, Pernambuco tem 0,5% da população com diagnóstico positivo; entre as cidades da Zona da Mata Sul do mesmo porte de Ribeirão, todas possuem taxas de contágio superiores, mesmo com algumas apresentando menos mortes: Sirinhaém (0,39% da população contaminada, 20 mortes), Bonito (0,40%, com 11 mortes), Barreiros (0,41%, com 23 mortes) e Palmares (0,73%, com 39 mortes), por exemplo, todas possuem taxas de contágio na população maiores que o dobro da de Ribeirão. 

Os dados estranhos não evitaram que o Governo de Pernambuco incluísse a cidade no grupo de 22 municípios da Mata Sul que não foram autorizadas a avançar à terceira fase de retomada das atividades econômicas. A avaliação é que a região ainda apresenta curva crescente de casos e, portanto, não tiveram ainda permissão para reabertura dos comércios de rua ou dos estabelecimentos de estética.

O número de mortes de Ribeirão (35) está bem próximo ao de Palmares (39), mesmo com esta segunda tendo cerca de 15 mil habitantes a mais. A comparação mais segura talvez seja com a vizinha Sirinhaém, que tem apenas 1.500 habitantes a menos que Ribeirão. Sirinhaém tem 20 mortes, quase a metade das 35 de Ribeirão. E mesmo com menos mortes, Sirinhaém tem 178 casos confirmados, 100 a mais que os vizinhos. Todos os dados apontam para uma subnotificação acima do normal em Ribeirão. Enquanto nesta a letalidade é de 48%, a segunda cidade de Pernambuco com maior letalidade é Bom Jardim (18,9%). O levantamento considera as 50 maiores cidades do estado.

A nível nacional, os pesquisadores estimam que o país esteja detectando apenas um sétimo ou um décimo dos casos, visto que as testagens têm se destinado apenas para casos graves e profissionais de saúde. Se no Brasil (taxa de letalidade 4,87%) ou em Pernambuco (8,45%) o número real de casos é 7 vezes maior que os diagnosticados, em Ribeirão (letalidade de 48%) a estimativa teria que multiplicar por mais de 30 vezes os 73 casos detectados.

A gestão municipal do Ribeirão reabriu, no início de junho, o Hospital Geral de Ribeirão – que estava fechado havia mais de 5 anos. O equipamento conta com 12 leitos isolados para internações de pacientes com casos graves de covid-19 e síndromes respiratórias agudas graves (SRAG); mas também atende no mesmo edifício as gestantes (4 leitos de obstetrícia), crianças (7 leitos pediátricos) e faz atendimentos clínicos (10 leitos).

A reportagem do Brasil de Fato tentou contato com a prefeitura por telefone, e-mail e redes sociais, pedindo entrevistas com o prefeito Marcello Maranhão e o secretário de saúde Edinei Santana, mas a gestão municipal não respondeu aos pedidos para entrevista.

Isolamento

A cidade também não vai bem no índice de isolamento. O número de mortes ainda não assusta a população, que tem apenas 37,3% da população respeitando o isolamento social. Entre as cidades da região, tem o pior índice, atrás apenas de Rio Formoso, que cujo índice de isolamento é de 36,9%. Mesmo Palmares, maior cidade da região, tem conseguido manter o isolamento acima dos 40%. Sirinhaém tem se mantido próximo dos 42%. 

Coincidentemente vem da Mata Sul alguns dos melhores exemplos de respeito ao isolamento. O município de Primavera, com seus 15 mil habitantes, tem mais de 50% de isolamento (atualmente o 2º melhor índice de Pernambuco). Xexéu (49,2%), Belém de Maria (47,8%) e Joaquim Nabuco (46%) também têm bons índices, sendo todos municípios que possuem entre 12 e 16 mil habitantes. Os dados são do Painel do Isolamento, levantamento realizado pelo MPPE em parceria com a empresa pernambucana In Loco.

Comparação

O Brasil de Fato Pernambuco tem atualizando semanalmente os números de diagnósticos, mortes e taxas de letalidade nos 50 municípios pernambucanos com maior população. Juntos, estes municípios possuem mais de 7 milhões de habitantes (73,7% da população do estado), dos quais 0,58% foram diagnosticados com o vírus, somando 41.388 casos (87,2% do total de casos de Pernambuco). Os 50 municípios totalizam 3.639 mortes (concentrando 90,7% dos óbitos no estado). A taxa de letalidade é de 8,8%.

No levantamento destacam-se positivamente três municípios com baixas taxas de espalhamento do vírus. Buíque, no Agreste; e Ouricuri, Bodocó e Santa Maria da Boa Vista, no Sertão. Em Buíque, cidade de 56 mil habitantes, apenas 34 (0,06% da população) teve diagnóstico positivo. E o número não levanta desconfiança sobre subnotificação, já que – com uma única morte contabilizada – a taxa de mortalidade (2,9%) também está baixa. Os dados do município do Agreste são da terça-feira (15). Já Ouricuri, com 70 mil habitantes, tem apenas 53 casos (0,08% da população). E três mortes foram contabilizadas (5,66% de letalidade).

Os outros dois municípios são um pouco menores. Santa Maria da Boa Vista tem 41 mil habitantes, dos quais 11 (0,03%) foram diagnosticados com covid-19. Em Bodocó, apenas 10 pessoas (0,03%) dos 38 mil habitantes estão contaminadas. As duas cidades, junto com Afogados da Ingazeira, são as únicas três (entre as 50 maiores do estado) que ainda não tiveram óbitos causados pelo coronavírus. O Recife, por outro lado, é a cidade com maior percentual da população diagnosticado com covid-19: com 18.991 casos positivos, pelo menos 1,12% dos recifenses já foi contaminado pelo vírus.

 

Edição: Vanessa Gonzaga