Pescadores e pescadoras do bairro de Barra de Jangada, em Jaboatão dos Guararapes, temem perder a área onde se encontra a sede da Associação de Pescadores de Barra de Jangada (APBJ), devido à tentativa de reivindicar a posse do local pela Etasa Empreendimentos Turísticos S/A. A sede está localizada em uma área de Marinha, ou seja, a posse é da associação há mais de 20 anos, mas a propriedade do terreno é da União.
A associação foi fundada em 2003 e desde então permanece no mesmo lugar às margens da foz do Rio Jaboatão, em Barra de Jangada. É no local onde cerca de 900 pescadores e pescadoras atracam tarrafas, barcos e jangadas, além de comerciarem camarão, lagosta, tainha, marisco, unha de velho, carapeba, caranguejo, sururu e diversos peixes de água doce e típicos do mangue. “O pescador precisa trabalhar para botar o pão na mesa como todo mundo e se tirar a gente dali, acabou pra gente, a gente não vai ter como trabalhar para sobreviver”, afirmou a pescadora Maria da Graça do Nascimento Barbosa, que trabalha com pesca desde 1993.
No último mês, a Etasa colocou contêineres com banheiros químicos para funcionários da empresa permanecerem no local e impedirem a passagem dos trabalhadores e trabalhadoras, que temem pelo seu sustento. “No último mês, denunciamos à Polícia Militar a presença de pessoas armadas no local para impedir a passagem dos pescadores, e quando foram averiguar confirmaram a nossa denúncia. Os pescadores são pessoas simples e a maioria analfabeta, não tem estrutura de lidar com situações assim”, lamentou o presidente da APBJ, Lot Bernardino de Sena.
No entorno existe uma grande área verde com vegetação nativa de restinga com a presença de mangabeiras, cajueiros e outras espécies, além de um manguezal. “Eles só querem tirar a gente dali pra construir prédio e acabar com o paraíso que é aquele lugar, sem pensar nem no meio de ambiente”, disse Graça. Já o presidente da associação percebe a atuação da empresa como preconceito de classe, visto que a Etasa seria proprietária de terrenos próximos à associação de Moradores. “Eles não aceitam a nossa presença ali, a diferença de classes sociais que a presença da associação no local representa, eles não querem pobres perto deles”, disse Lot, que completa “eu só quero que a gente tenha o nosso espaço de 100m² na beira do mangue, beira de maré, para continuarmos o nosso trabalho e a preservação de tudo que a associação construiu ali”, afirmou Lot.
Tentamos contato com a empresa Etasa para que ela se posicionasse sobre a questão com os telefones disponibilizados pela mesma, mas as ligações não foram atendidas. Lot Bernardino acredita que o terreno é alvo de especulação entre construtoras. “Eles querem destruir uma área de preservação para a construção de prédio, por grandes imobiliárias que devem estar por trás. Nós temos documentos da Marinha comprovando isso”, falou o presidente. Os pescadores denunciaram a situação ao Ministério Público Federal (MPF) também”, afirmou.
Edição: Vanessa Gonzaga