Foi confirmado o primeiro caso de contaminação pela Covid-19 nas comunidades quilombolas do município Santa Maria da Boa Vista, localizado no sertão do estado. A Comissão Municipal das Comunidades Quilombolas de Santa Maria da Boa Vista, junto às associações quilombolas de Inhanhum, Serrote, Cupira e Saruê, manifestaram sua preocupação em relação ao caso, visto que o primeiro caso confirmado na região é morador do Inhanhum e viajou pouco antes do diagnóstico a outra comunidade, onde já existe confirmação de casos da COVID-19. Além disso, ele teria tido contato com cerca de 50 quilombolas através do transporte público.
O paciente é do grupo de risco por portar Diabetes tipo 1 e testou positivo após fazer o teste rápido no Hospital Municipal de Santa Maria da Boa Vista no dia 29 de junho, ficando internado até o dia 02 de julho, sem que a sua família ou a comunidade tivessem sido informadas até o seu retorno. "Foi constatada uma série de negligências no atendimento desse paciente tanto no hospital, como na condução dele para a comunidade, bem como na assistência domiciliar dele no quilombo de Inhanhum”, afirmou Marta Rodrigues, educadora popular e moradora da comunidade quilombola da Cupira, que completa “para nós é uma preocupação muito grande, por que a gente vê um despreparo da equipe de saúde, uma falta de qualificação dos profissionais, não só com o nosso povo quilombola, que tem uma relação muito próxima entre as famílias e suas especificidades, considerando a relação próxima de cunho familiar, social e econômico nas comunidades".
A Comissão Municipal das Comunidades Quilombolas exige que sejam tomadas providências para garantir uma assistência ao paciente, seus familiares às comunidades quilombolas. "A partir do momento que a gente tem um caso positivo, é preciso que a gente tenha um diálogo, é preciso que tenha uma organização da Secretaria de Saúde junto com as comunidades quilombolas para que a gente possa fazer com que o isolamento dessas pessoas seja feito com segurança para que o vírus não tenha uma grande propagação nas nossas comunidades", disse a educadora, que ressalta que "esse caso é um alerta para que os equipamentos de saúde possam voltar um olhar para o povo quilombola, o povo negro, numa perspectiva de garantir a vida do nosso povo"
Além disso, a Comissão pede que seja iniciado o processo de diagnóstico e testagem das pessoas apontadas que tiveram contato direto com o paciente na comunidade, bem como os passageiros de outras comunidades que utilizaram o mesmo transporte coletivo na manhã do dia 29 de junho. A comissão fez um levantamento de quem seriam essas pessoas e passou para elas as orientações sobre a necessidade de isolamento domiciliar, mas continua necessitando da ação da Secretaria para que essas pessoas possam ser testadas e sejam assistidas.
Em contato com a Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco, foi informado que não existe um método específico para notificação de comunidades quilombolas no sistema do Ministério da Saúde, dividido apenas por grupo étnico. Além disso, a Secretaria informou que esse tipo de acompanhamento deve ser feito através do município e que o Estado possui uma rede com leitos de enfermaria e de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) na região da VIII Geres, que inclui o município de Santa Maria da Boa Vista, para acolher os casos suspeitos ou confirmados da Covid-19 que precisem de internação.
O Brasil de Fato tentou entrar em contato com a Secretaria de Saúde de Santa Maria da Boa Vista, mas não recebemos resposta até o fechamento desta matéria. Verificamos que para atender as comunidades quilombolas de Inhanhum, Serrote e Cupira existe apenas um equipamento de saúde, que seria a Unidade de Saúde Básica (UBS), localizada na comunidade quilombola de Inhanhum. No entanto, o hospital onde o paciente foi atendido e internado fica fora dessa região.
Edição: Vanessa Gonzaga