Pernambuco

DESIGUALDADE

Relatório da Oxfam aponta que 5,2 mi de pessoas estão em situação de Fome no Brasil

Pesquisador aponta que aumento da vulnerabilidade social se deve à ataques em políticas de apoio à agricultura familiar

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Aumento da fome é um dos impactos da pandemia que teria sido potencializado devido a um contexto econômico e social já em crise - Agência Brasil

Segundo pesquisa da ONG Oxfam Brasil lançada no último dia 08, o Brasil é um dos epicentros emergentes da fome no mundo devido aos efeitos da pandemia de Covid-19. Em sua pesquisa “O Vírus da Fome: como o coronavírus está aumentando a fome em um mundo faminto”, a ONG analisa os efeitos da pandemia em localidades onde já havia índices de deficiência alimentar e nutricional.

Em 2014, o Brasil havia saído do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) e o documento atribui isso aos investimentos governamentais em benefício de pequenos produtores rurais e a um pacote de políticas públicas como a criação de um Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). No entanto, a pesquisa indica que a situação do país vinha se deteriorando desde 2015 em decorrência da crise econômica e de quatro anos de medidas de austeridade. Desde 2018. o número de pessoas em situação de fome no Brasil aumentou em 100 mil (para 5,2 milhões) em razão do aumento expressivo nas taxas de pobreza e desemprego, bem como a cortes radicais nos orçamentos para agricultura e proteção social, como ocorreu no programa Bolsa Família. 

“O Brasil saiu do Mapa da Fome porque nós tivemos políticas públicas estruturantes e assistenciais no combate à fome. As políticas assistenciais seriam como o Bolsa Família, o qual inicia como assistência e termina como política econômica muito eficiente. Além disso, políticas estruturantes seriam a recuperação e valorização do salário mínimo, que provoca a retirada de milhares de pessoas da linha da fome; bem como o PAA [Programa de Aquisição de Alimentos e o PNAE [Programa Nacional de Alimentação Escolar]” afirmou Jonas Duarte, professor do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba e Pesquisador Visitante no INSA, o Instituto Nacional do Semiárido, que acredita que a fome e a miséria são aspectos estruturantes do sistema capitalista, “Nós temos um capitalismo dependente que atrai o capital internacional para atuar aqui dentro com taxas elevadíssimas de lucro, isso necessita de um nível de exploração da força de trabalho muito grande, o que se consubstancia com fome, miséria, desemprego e desespero do povo brasileiro que leva as pessoas a se submeterem a uma semiescravidão”.

Com isso, os impactos da pandemia teriam sido potencializados devido a um contexto econômico e social já em crise no país e, com a impossibilidade do funcionamento da maior parte dos serviços, muitas pessoas perderam seus empregos do dia para a noite e ficaram desamparadas. Até a última semana, quando o documento foi publicado, foi observado que o governo federal não vem apoiando as pessoas mais vulneráveis do Brasil no enfrentamento à pandemia, visto que a implementação do programa de Auxílio Emergencial ainda está enfrentando muitos desafios, como a demora na resposta, as recusas sem justificativa válida e na necessidade de se ter telefone celular, conexão à internet e endereço de e-mail. Além do fato do governo estar ameaçando reduzir a concessão do benefício em um momento em que a doença ainda está fora de controle. 

Governos e pandemia

“Eles têm feito essa pesquisa para saber, diante de uma crise sanitária gigantesca como essa, de que forma e para quem os governos vão trabalhar. É notório que em governos com um viés mais social à esquerda ou liderado por partidos comunistas, o cuidado com a população é maior, como se pode ver no caso de Cuba, do Vietnã ou da China, que deram um exemplo de cuidado da população”, afirmou o professor, que completa “Os governos de extrema direita, menos cuidadosos e sensíveis às necessidades do povo, jogam o povo na miséria pela crise sanitária e econômica. Já os governos de centro-esquerda ou extrema esquerda cuidam do povo e se preocupam com o povo diante da gravidade da pandemia diante da crise na saúde e social”.



 

Edição: Vanessa Gonzaga