Um projeto de Formação de Agentes Populares de Saúde da campanha Mãos Solidárias, que teve início na Região Metropolitana do Recife (RMR), está se expandindo e agora alcança diversos estados do Brasil. Com o lema “O Povo Cuidando do Povo”, a campanha capacita os moradores a terem acesso a informações sobre cuidados básicos de saúde, combate à Covid-19, saúde popular e estimula toda a comunidade pela melhoria do lugar onde vivem. Devido ao sucesso da empreitada, o projeto foi agregado à campanha Periferia Viva e chegou na última semana à Bahia, à Alagoas e à São Paulo até o momento.
A formação dos agentes nasceu em março pela campanha Marmita Solidária no Armazém do Campo do Recife, que tem o objetivo de oferecer alimentos saudáveis para a população de rua, oferecendo 1.550 marmitas por dia. Com isso, passaram a enfrentar o desafio de realizar uma campanha de solidariedade enfrentando o risco do adoecimento dos próprios voluntários, assim se fez necessário elaborar estratégias de cuidado para os voluntários se protegerem enquanto cuidam do povo.
"Então, foi desenvolvida uma estratégia por duas brigada de saúde, no contexto do Armazém do Campo. Uma brigada de produção de máscaras solidárias e outra brigada de saúde para garantir essa orientação dos voluntários sobre o uso correto de máscaras, lavagem correta das mãos e medidas de proteção para quando sair de casa e ao voltar para casa após a ação solidária", afirmou Lívia Milena Mello, Professora de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Doutoranda em Saúde Coletiva da Fiocruz/PE, Membro do Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes) e coordenadora político-pedagógica da Brigada de Saúde da Campanha Mãos Solidárias e Periferia Viva.
Para abarcar todas as iniciativas que surgiram a partir da distribuição de marmitas, foi necessária uma campanha maior, agora chamada de Mãos Solidárias, que hoje tem diversas vertentes. Assim, pesquisadores, estudantes e profissionais de saúde voluntários passaram a se envolver no projeto e, ao ver a sua eficácia, entendem a importância de levar essas estratégias do povo cuidando do povo utilizadas na campanha de solidariedade para as comunidades da Região Metropolitana do Recife (RMR). “Então, no início do mês de maio, a gente faz uma experiência piloto de formação de pessoas da comunidade de Peixinhos, e depois em Brasília Teimosa. Pessoas que já estavam envolvidas no Marmitas Solidárias, mas a gente faz uma proposta de formação para que elas pudessem voltar a sua ação para dentro das próprias comunidades”, afirmou Lívia.
Assim, o projeto capacita os próprios moradores para cuidarem dos seus vizinhos, levando informação e buscar alternativas e melhorias para o bairro onde ele reside. “Os agentes populares de saúde se organizam na própria comunidade fazendo o trabalho na sua rua e nisso eles organizam a sua comunidade de acordo com o que acontece com as famílias”, disse afirmou Leka Rodrigues, educadora popular e coordenadora do setor estadual de saúde do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), coordenadora dos Agentes Populares de Saúde em Pernambuco e coordenadora dos Agentes Populares de Saúde do Campo em todo o Brasil, que exemplifica “Um dos trabalhos que está sendo desenvolvido com essa organicidade é dos Bancos de Alimentos, que os Agentes Populares de Saúde tem a tarefa de organizar esse banco e manter sempre o banco alimentado para estar ajudando as famílias que necessitam. Então o agente tem o papel de levar o alimento para as famílias que estão em situação de mais vulnerabilidade”.
Atualmente, o curso vem sendo realizado em parceria com a FioCruz e 12 turmas já foram concluídas em Olinda, Recife, Camaragibe e Paulista. Ademais, existem 20 turmas em andamento nos municípios de Vitória de Santo Antão, Palmares e Gameleira, o que destaca a importância dos cuidados na região em razão da interiorização da Covid-19. "Nas cidades do interior, principalmente das que são mais distantes da capital, esse papel do agente pop de saúde vai estar em informar todo o contexto atual do cuidado para as famílias se organizarem e evitarem o contágio do Coronavírus. Então é de suma importância que o agente possa estar sempre levando as informações que recebe das coordenações estaduais e daqui do Recife", disse Leka.
A partir da experiência de Pernambuco, surgiu a proposta de nacionalizar a experiências de formação de Agentes Populares de Saúde através da campanha Periferia Viva. Na última semana, a campanha lançou turmas em Salvador, em Maceió, na cidade de São Paulo e está no processo de articulação de turmas em Minas Gerais.
Além disso, há também uma formação específica para a população camponesa pelo Movimento de Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) através da formação de Agentes Populares de Saúde do Campo que já iniciou turmas em diversos estados do País. "Em termos de resultados, a gente pode mencionar um impacto qualitativo nessas comunidades. As Agentes Populares de Saúde tomaram as rédeas do processo e estão cada dia mais desenvoltas e mais apropriadas desses saberes científicos na linguagem popular e cada vez mais à vontade para fazer essa abordagem familiar, comunitária e de articular essa rede de apoio, porque geralmente as famílias que mais precisão são as que têm mais dificuldade de acesso", concluiu a coordenadora político-pedagógica das campanhas.
Edição: Vanessa Gonzaga