Um grupo de jovens empreendedores que trabalha com impressão 3D desde 2015 vem realizando doações de escudos faciais, termômetros e outros equipamentos utilizados no combate à covid-19. A Coletivo 3D já tinha projetos na área de tecnologia e saúde antes da pandemia, com a produção de próteses para pessoas com paralisia e de ossos para ensaio pré-cirúrgico e utilizaram da sua experiência e das pesquisas para contribuir com os profissionais de saúde no combate à doença. Até o momento foram doados 1.375 escudos faciais.
“A gente começou a produzir os escudos faciais, os protetores de ouvidos, os puxadores de portas e todos os produtos que estão sendo utilizados na luta contra o covid-19, que são produtos que a gente pegou modelos abertos e modificou, fez algumas melhorias, e em cima disso entrou em contato com o design para saber se a gente poderia comercializar, com o intuito de dar uma de Robin Hood, pegar dos ricos para poder dar pros pobres”, afirmou o psicólogo Rhalldiney Lima, que é sócio e maker da Coletivo 3D, que completa “A gente já doou para vários hospitais, para famílias, para equipes de saúde em Fernando de Noronha; vendemos alguns produtos para poder reverter parte dessa verba em doação”.
A ideia de fabricar termômetros infravermelho surgiu a partir do contato com a equipe da campanha Mãos Solidárias, que está formando Agentes Populares de Saúde para irem às comunidades dar orientações básicas em saúde e para entrar em contato com os moradores precisavam do equipamento para melhor realizar o trabalho. “Agora os agentes podem identificar de imediato pessoas com febre durante a visita às comunidades e verificar se há necessidade de procurar atendimento médico”, disse Leta Vieira, coordenadora de infraestrutura do Mãos Solidárias e militante do MST.
Leta foi quem fez a ponte entre o coletivo e a campanha e acredita que o acesso a estes equipamentos através da tecnologia 3D é algo revolucionário. “A grande importância disso é que a gente agora tem uma produção nacional feita por pernambucanos, olindenses, da periferia, fora desse sistema das grandes empresas. É muito revolucionário tomar posse de uma tecnologia que só existe lá fora e criar alternativas regionais para oferecer à população enquanto o governo nos nega equipamentos”, concluiu.
Ao tomar conhecimento da necessidade, os integrantes do Coletivo 3D se propuseram a inovar e aceitar o desafio de produzir algo extremamente necessário para o trabalho dos profissionais de saúde. “Foi um desafio pra gente, porque até o momento a gente nunca tinha até então atuado diretamente com esse tipo de produto. Aí a gente começou a pesquisar novamente para ver como os laboratórios lá fora estavam fazendo, a gente encontrou um modelo aberto, ‘open source’, de termômetro e começou a produzir”, afirmou Rhalldiney.
A empresa Coletivo 3D é formada pelo PsicoMaker Rhaldney Lima, o CEO Rafael Oliveira e o cientista e projetista João Corte, que começaram a trabalhar com impressora 3D em 2015 e trabalham para que a tecnologia assuma uma função social, de modo que todos possam ter acesso independente de terem recursos financeiros ou não. “A ideia da gente é que a tecnologia venha para somar para quem não tem como acesso. Então a gente sempre tem essa preocupação, é uma responsabilidade social do nosso negócio e nesse período de pandemia não seria diferente”, afirmou Rhalldiney, que também reflete sobre a desigualdade na distribuição da tecnologia “A gente sabia que os hospitais públicos iriam fazer licitações para conseguir esse tipo de material como a gente viu isso acontecer, a gente sabia que os hospitais privados teriam acesso, os negócios como supermercados também iam acesso. Mas a gente pensou: e as comunidades? E as UPAs? E os hospitais de família?”. Quem quiser saber mais sobre as ações do Coletivo 3D pode acessar o site ou a conta no Instagram da iniciativa.
Edição: Vanessa Gonzaga