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Bolsonaro e a midiatização da perseguição contra políticos de esquerda

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Moro viu a necessidade de afastar-se de Bolsonaro para promover sua própria carreira política - Reprodução
Em 2020 o Nordeste precisa ampliar sua mensagem contra o programa genocida e fascista de Bolsonaro

Em maio desse ano um dos maiores escândalos do (des)governo Bolsonaro veio à tona: a intenção do Presidente da República de interferir na Polícia Federal. O escândalo foi relevado pelo ex-Ministro da Justiça Sérgio Moro, que saiu do cargo por discordar do aparelhamento da instituição para atender interesses políticos – e pessoais – do seu então chefe, Jair Bolsonaro.

A utilização da Polícia Federal como agente político para constranger e destruir a imagem pública de políticos de esquerda já se tornou prática comum desde a Operação Lava-Jato com, inclusive, a anuência do então Juiz Sérgio Moro. Tanto que a operação girou os holofotes para o então desconhecido juiz e possibilitou o início de uma carreira política que hoje reconhecidamente visa uma futura candidatura eleitoral.

Nesse sentido, o que levou Sérgio Moro a abandonar o cargo de Ministro da Justiça não foi qualquer discordância moral sobre a politização da Polícia Federal, mas sim disputas de interesses políticos e a necessidade de afastar-se de Bolsonaro para promover sua própria carreira política.

Interesses peçonhentos a parte, fato é que em ano de eleições municipais e com o crescimento da rejeição popular contra Bolsonaro, o Governo Federal aposta, novamente, na midiatização e na perseguição política contra políticos de esquerda. É muito simples. Para Bolsonaro voltar a fazer sentido para parte do seu eleitorado que hoje discorda das suas ações genocidas em plena pandemia, ele precisa reacender o sentimento nacional de que é comprometido com o fim da corrupção. Óbvio que para fingir tal comprometimento, ele precisa necessariamente fechar os olhos para as inúmeras evidências que colocam a sua própria família no centro de uma rede corrupta no Rio de Janeiro.

A hipocrisia bolsonarista não encontra limite na ética. Logo após o escândalo da sua interferência na Polícia Federal, foram deflagradas diversas operações pela instituição contra políticos de oposição ao seu governo genocida e fascista, estratégia que já havia sido anunciada pela ministra Damares Alves na polêmica reunião ministerial que veio a público em abril. Nas palavras da ministra “A pandemia vai passar, mas governadores e prefeitos responderão processos e nós vamos pedir inclusive a prisão de governadores e prefeitos”.

Uma grande parte dessas operações acontecem em solo nordestino, não coincidentemente única região do Brasil em que Jair Bolsonaro perdeu nas eleições de 2018 e onde os governadores estaduais e prefeitos mantém distanciamento das alucinadas posturas de minimizar o impacto do coronavírus na saúde e na vida das pessoas.

A última dessas operações ocorreu no Piauí, contra o governador Wellington Dias e a deputada Rejane Dias, ambos petistas. Ao repetir as mesmas fórmulas de perseguição e intimidação que ocorreram na prefeitura de Recife (PE) e de Fortaleza (CE), a Polícia Federal age contra políticos que mantiveram uma postura de criticar a ausência do Governo Federal nas ações contra a COVID19.

A fórmula é simples: sem qualquer prova indiciária, a Polícia Federal presume que todos os contratos firmados pelos governos e prefeituras de oposição são fraudulentos. A presunção, contudo, não passa por qualquer averiguação inicial, nem mesmo um mero requerimento de que a administração pública envie os contratos administrativos para análise da PF ou até a intimação para que os agentes públicos prestem esclarecimentos perante as autoridades policiais.

Evidentemente, não é possível se negar a possibilidade de fraudes, mas tais possibilidades devem ser investigadas de forma séria, respeitando os limites institucionais de cada órgão e, ao final, recaindo contra as pessoas que efetivamente contribuíram para o desvio de recursos públicos. O tamanho da crise – e a necessidade de respostas rápidas para impedir o esgotamento do sistema público de saúde – impede que os governadores e prefeitos tenham conhecimento sobre todos os processos de compra de material. Responsabilizá-los de forma autoritária, sem que sequer seja oportunizada a chance de esclarecimentos que poderiam contribuir com as investigações, demonstra o interesse de se criar um fato político que manche, desonre e iniba a oposição.

É fundamental se garantir investigações que estejam em conformidade com o Estado Democrático de Direito. Para isso, é preciso defender a autonomia da Polícia Federal. Todos os avanços conquistados no Brasil após a democratização não podem ser extirpados em prol de um projeto político de morte e de caos.

Em 2018 o Nordeste, orgulhosamente, disse não aos planos neoliberais e explicitamente racistas, machistas e homofóbicos de Bolsonaro. É justamente por medo da resistência nordestina que o atual Presidente volta uma das suas armas mais poderosas para os nossos estados e persegue governadores e prefeitos eleitos democraticamente. Em 2020 o Nordeste precisa ampliar sua mensagem contra o programa genocida e fascista de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes e elevar sua voz para repetir: Aqui não.

Edição: Vanessa Gonzaga