A tecnologia que favorece os “cidadãos consumidores” precisa estar à disposição de todos
Não foi preciso esperar 2050 para ter a clara noção do efeito da tecnologia em nossas vidas. Atualmente já é possível monitorar a pressão arterial, batimentos cardíacos, estresse e o nível de oxigênio pelo telefone celular ou mesmo por um smartwatch. Com estes dados disponíveis via internet teremos bem mais que o CPF e as movimentações financeiras circulando pelas redes. E não é à toa que os alertas comerciais, ofertas de produtos e planos, vêm se tornando assustadoramente personalizados.
Vivemos um tempo em que nossos dados bancários, dados vitais e de posicionamento estão sendo continuamente monitorados por empresas e suas inteligências artificiais interessadas naquilo que potencialmente podemos ser induzidos a desejar e consumir. Em tempos de pandemia, essa parafernália tecnológica surge também nos tecidos com ação antiviral que passam a ser um acessório necessário. No entanto, todo este monitoramento tem sido prioritariamente para fins comerciais. Uma legião de bons consumidores é tudo o que o mais interessa ao capitalismo.
E esta mesma pandemia escancarou de forma muito particular que a concentração de riqueza aumentou ainda mais, expondo a condição de vulnerabilidade de nosso povo. O exemplo recente e mais estarrecedor foi o auxílio emergencial que não atingiu os moradores de rua quando de sua implementação, pelo fato de que estes raramente andavam com seu CPF e identidades nos bolsos ou mesmo dispunham de um aparelho celular com aplicativo de banco. A pandemia demonstrou também que o simples ato de lavar as mãos com água e sabão não é tão simples quando se vive abaixo da linha da pobreza. Todas estas observações óbvias revelam um recorte social que faz do povo pobre o principal alvo deste vírus perverso.
No entanto, o conceito de saúde única aplicada a esta pequena aldeia chamada planeta Terra tem muito a nos ensinar. Aprendemos em nossa história recente que compartilhamos vírus em uma velocidade incrível e que todos estão susceptíveis aos danos provocados pela ação do homem sobre o meio ambiente. A tecnologia que favorece os “cidadãos consumidores” precisa estar à disposição também de todos os outros cidadãos, sob o risco de reforçamos ainda mais o quadro de desigualdade social por todo o planeta, o que abrevia irremediavelmente a estadia de nossa espécie por aqui.
O cenário nos leva a crer que muito em breve a humanidade precisará decidir entre manter as riquezas nas mãos de tão poucos ou prolongar as condições mínimas de sobrevivência em um planeta totalmente degradado por um modo de produção não sustentável.
Edição: Vanessa Gonzaga