O crescimento da aprovação e a queda na rejeição atingiu a quase todos os segmentos socioeconômicos
O meu desejo agora era de poder apontar cada falha grave no governo de Bolsonaro e anunciar, otimista, que o governo está cada vez mais encurralado. Motivos não faltariam: esquemas do Queiroz, lavagem de dinheiro, 100 mil mortes por covid-19. Mas, infelizmente, a realidade aponta para outro lado: o governo de Bolsonaro está mais forte que nunca.
Um elemento importante para esta análise é a recomposição pela qual passou o governo nos últimos meses. O centrão, sempre ele, passou a ganhar cargos e atribuições de forma bem acelerada. Passaram a indicar membros no governo gente da linha do ex-deputado Valdemar Costa Neto, ex-deputado e cacique do PL, e o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, que entre outros cargos, indicou o presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, o FNDE, que movimenta nada menos que um orçamento anual de R$ 54 bilhões.
Também temos assistido há um certo incremento na popularidade do governo. A última pesquisa Datafolha pôs em números este crescimento. Confesso que é difícil analisar este aumento no apoio popular em um momento no qual já chegamos a mais de 100 mil mortes por covid-19 aqui no Brasil. São vários vetores que necessariamente precisariam ser incluídos nesta análise, o que o espaço não permite. Se sabe que o auxílio emergencial é um destes fatores.
Entretanto, cometeremos um erro grave se ficarmos apenas nesta explicação. Para isso, basta ver, por exemplo, que o crescimento da aprovação e a queda na rejeição atingiu a quase todos os segmentos socioeconômicos e demográficos na pesquisa acima citada.
Ao afirmar que o governo nunca esteve tão forte, não indico que a situação esteja maravilhosa para o lado de lá. Mas, de fato, há uma conjunção de fatores que apontam para uma estabilidade até inesperada, pelo que vínhamos acompanhando desde o início do governo. Há, entretanto, um foco de conflito que pode de alguma maneira ainda mexer nesta estabilidade: o incômodo de Paulo Guedes, representando o setor ultraliberal no governo, com a expansão de gastos e com os debates em torno de uma possível revisão no teto dos gastos.
Compreendendo a situação desfavorável, faz-se necessário seguirmos insistindo em uma política de unidade mais ampla. Isso inclui o debate em torno das eleições municipais. Construir possibilidades de alianças, seja no primeiro ou no segundo turno, é fundamental para enfrentar com força o fascismo e podermos colher algum saldo positivo após os resultados das urnas.
Edição: Vanessa Gonzaga