Este ataque acontece no momento em que a humanidade mais depende da ciência

Deve constar no projeto de Lei Orçamentária Anual de 2021 um corte radical para as universidades e institutos federais da ordem de 18,2%, o que representa algo em torno de 1,4 bilhão de reais.

Estes cortes são previstos para as despesas discricionárias, que na prática são os recursos que pagam as contas de água, luz, telefone e algo ainda mais crítico: a assistência estudantil. Neste último caso, vale ressaltar que os 1,16 bilhão investidos em 2020 para assistência estudantil podem ser reduzidos em 185 milhões de reais de 2021.

A severidade dos cortes nos últimos anos têm atacado fortemente as instituições públicas de ensino superior. Antes da pandemia, vivemos uma realidade de contingenciamento de uso do ar-condicionado, redução no número de funcionários da limpeza e de segurança. E com a volta das atividades presenciais haverá a necessidade de adequações para as instituições. Como fazê-las se não há dinheiro para pagar a conta de luz, por exemplo?

Não quero imaginar o que significa esse novo corte “planejado” para 2021. Espero torcer pelo Congresso, que tem a missão de salvar as instituições brasileiras de mais este duro golpe.

Para o momento, basta lembrar um importante aspecto: o perfil dos estudantes nas instituições públicas de ensino superior mudou nos últimos anos. Menos assistência estudantil significa menos oportunidades aos mais vulneráveis, que deixarão de contar com o único apoio que garante seu direito de estudar.

Espero que todos estejam atentos aos menos favorecidos, já que agora a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) decidiu pautar a discussão para bônus regional de cursos de medicina. As instituições não podem elitizar seu discurso enquanto veem os filhos do povo saindo pela porta dos fundos. Se estes hoje ainda mantêm o sonho de uma vida melhor, é porque fazem malabarismos mil, vendendo picolés e doces na sala de aula. Amanhã, não mais.

 Já vimos de outros órgãos públicos que o caminho do desinvestimento é a estrada que leva à privatização. E o pior é saber que este ataque acontece no momento em que a humanidade mais depende da ciência. A manutenção da Universidade pública e de qualidade é a garantia de que pela educação um povo pode sonhar com um futuro melhor. Resta resistir.

Edição: Vanessa Gonzaga