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O escândalo da Hanseníase

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Em tese, os medicamentos deveriam ser fornecidos aos estados e municípios pelo governo federal, mas a informação é que esta entrega não está sendo feita há meses - Reprodução/SMS de Mesquita
Já são inúmeros os pacientes, de Recife a Petrolina, que estão sem receber os fármacos

Não bastassem todos os impactos da falta de uma política de combate à pandemia em nosso país, o governo federal protagoniza um novo escândalo na saúde. Desta vez, me refiro à falta de medicamentos para o tratamento de Hanseníase, conhecida antigamente como a lepra. Esta é uma doença crônica, transmissível e que pode atingir vários órgãos, sendo a pele e os nervos como locais mais comuns.

Apesar dos avanços, o Brasil é o 2º país do mundo com maior incidência de casos por ano. Só em 2017, o país apresentou 26.875 casos. O tratamento para a doença de Hansen é baseado num conjunto de antimicrobianos, que recebe o nome de poliquimioterapia (PQT), e dura, no mínimo, de 6 a 12 meses. Todo o tratamento é feito pelo Sistema Único de Saúde, que tem o compromisso de zelar pelo diagnóstico, monitoramento, até a alta de cada pessoa diagnosticada com este problema. 

Isto é o que está na legislação e deveria ser o compromisso de todo governo. Mas como apontei acima, não é o que está sendo seguido pelo governo federal. Em tese, os medicamentos deveriam ser fornecidos aos estados e municípios pelo governo federal, mas a informação é que esta entrega não está sendo feita há meses da forma adequada. Em Pernambuco, por exemplo, já são inúmeros os pacientes, de Recife a Petrolina, que estão sem receber os fármacos. 

Um detalhe importante é que pacientes com tratamento de 6 meses, devem concluí-lo em no máximo 9 meses. A mesma lógica serve para os pacientes com tratamento prescrito por 12 meses, que devem concluí-lo em até 18. E é aí que mora o perigo, porque nestas situações corremos um grande risco de aumento da resistência às drogas, diminuindo, portanto, a eficácia delas no tratamento. O aparecimento de sequelas físicas nos pacientes também é uma possível consequência da interrupção da terapêutica, assim como todo o transtorno de ter que reiniciar do zero uma terapia tão longa e com efeitos colaterais para quem os utiliza. 

Cobrado pela Sociedade Brasileira de Hansenologia, o Ministério da Saúde respondeu no último dia 17 de agosto com um ofício vago e sem o mínimo de informações que nos ajudem a compreender o que está acontecendo. A falta de transparência parece ser uma conduta definida em cartilha pelo Ministério da Saúde do atual governo de Bolsonaro. Não se sabe se há estoques, quanto foi enviados aos estados e municípios, e muito menos sobre quando teremos um restabelecimento do fornecimento da PQT.

Enquanto isso, já há um sem-número de famílias que sofrem duplamente: com o desabastecimento e com a desinformação. Vale o registro de que se tratam de medicamentos conhecidos há décadas e sem patente, o que não justifica a ausência de uma produção própria nacional, dada a situação de endemicidade da doença em nosso país. É com este descompromisso com a saúde da população que Bolsonaro segue atacando a dignidade do povo brasileiro.

 

Edição: Vanessa Gonzaga