Pernambuco

CULTURA

O uso da cachaça na medicina popular pode trazer benefícios à saúde

Além do consumo social, a cachaça também é consumida como remédio popular na produção de garrafadas, raizadas e tinturas

Brasil de Fato | Recife, PE |

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“Para mim, a produção da cachaça é uma identidade e a gente não pode deixar que essa identidade se perca", afirmou a farmacêutica e professora universitária Lourinalda Silva - Banco de Imagens

A cachaça é uma bebida que agrada a maior parte dos pernambucanos das mais diferentes regiões e classes sociais, seja ela uma cachaça industrializada ou produzida artesanalmente. A bebida destilada é reconhecida como Patrimônio Cultural e Imaterial de Pernambuco desde 2008. No dia 13 de setembro foi celebrado o dia da cachaça, uma bebida digestiva que é utilizada para fins recreativos, mas também como produto fitoterápico na produção de tinturas, garrafadas e raizadas desde o século XVI. 

“As tinturas ou garrafadas ou raizadas são feitas plantas medicinais que os povos tradicionais produzem de várias gerações colocam na cachaça e deixam apurando, algumas vezes até enterram, e elas são usadas como tratamento medicinal na cura de várias doenças”, afirmou Lourinalda Silva, que é farmacêutica industrial, professora do Departamento de Química da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e produz cachaças e tinturas artesanalmente para consumo próprio. “Para mim, a produção da cachaça é uma identidade e a gente não pode deixar que essa identidade se perca, ela é um produto tradicional fitoterápico na minha concepção; porque ela faz duas frentes: a recreativa social e a medicinal”, ressalta.

As garrafadas são misturas da cachaça de alambique, também chamada de cachaça-base, na qual são colocados frutas, raízes, ervas ou até mesmo caranguejos, insetos, morcegos e até barbatana de peixes. O objetivo é que sejam utilizados para fins medicinais que vão desde o tratamento de doenças hepáticas, de gripes e resfriados, de úlceras e doenças estomacais até no combate de piolhos e costumam ser comercializadas em mercados públicos. 

“Muita coisa que vem da natureza tem essa função benéfica a saúde em quantidades moderadas, é aquela história: a diferença entre o remédio e o veneno é a dose e a cachaça envelhecida tem esse processo nas madeiras, que podem ter essas propriedades medicinais, que são os chamados compostos fenólicos e já foi constatado que alguns tem propriedades benéficas à saúde”, disse Felipe Jannuzi, um dos criadores do Mapa da Cachaça e que desenvolve pesquisas sobre aromas e sabores das bebidas produzidas nos mais diferentes cantos do país. “No nordeste é bastante comum e acho que no Brasil inteiro é muito comum você encontrar cachaças com lascas de madeira ou uma planta dentro, dezenas de botânicos que são utilizados para saborizar a cachaça, mas também como medicina popular para curar problemas hepáticos, nas articulações e vários outros”.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo diário ideal da bebida é cerca de 30g de álcool (etanol), o que corresponde à praticamente duas doses de cachaça. “O que vem sendo comprovado, em literaturas sobre vinhos, sobre uísque e agora alguns pesquisadores estão trazendo também para o mundo da cachaça, é que se houver um consumo moderado, consciente, você deguste a cachaça e não use para ‘encher a cara’, é que a bebida pode trazer benefícios como a melhora na circulação, propriedades antioxidantes e anticoagulantes”, afirmou o especialista que alerta que “A palavra cachaceiro ganhou um tom pejorativo, quando na verdade o que deve ser combatido não é o consumo de cachaça, mas o consumo de álcool em excesso em geral”.

O estado de Pernambuco é o segundo que mais produz, exporta e consome a bebida em todo o país, e, para a farmacêutica, a cachaça representa uma forte identidade cultural na região. “Eu adoro cachaça e cada vez que eu vou nos territórios e encontro pessoas que tem autonomia de produção da sua cachaça, eu fico muito feliz com isso, porque é uma identidade muito grande do nosso povo do campo e essas cachaças que eles produzem que já está na família há muito tempo da receita”, afirmou Lourinalda, que acredita que a cachaça está muito relacionada ao legado dos povos tradicionais do campo. “Para mim tem muito a ver com a soberania e a segurança alimentar, porque eles tem muito mais confiança da cachaça que eles produzem que de uma cachaça de fora”, disse.
 

Edição: Monyse Ravena