Em Pernambuco, dos 25 deputados federais, ao menos quatro representam denominações protestantes e todos integram siglas de direita. Na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), entre 49 deputados, são pelo menos 11 os deputados estaduais que formam a “bancada evangélica”. Entre eles, três estão em partidos do campo progressista (PSB e PT), enquanto nove estão em siglas de direita. Na Câmara do Recife, entre 39 vereadores, ao menos oito representam hoje o segmento das igrejas evangélicas. Entre eles, três estão em partidos do campo progressista (PSB e PCdoB), enquanto cinco estão em siglas de direita.
Na capital pernambucana, de acordo com o Censo 2010 do IBGE, enquanto 50% da população é católica, cerca de 30% é evangélica, entre os quais mais da metade são de denominações neopentecostais (17% do Recife), entre as quais é amplamente dominante a Assembleia de Deus (13%). O segmento protestante também tem ganhado destaque na política brasileira por uma atuação organizada de ocupação de espaços de poder e influência, obtendo concessões de canais de rádio e televisão, que somados a um enraizamento das igrejas nas periferias, resultam em grandes votações obtidas por políticos que se propõem representar este segmento. Uma das grandes organizações protestantes, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), do bispo Edir Macedo, é proprietária de canais de comunicação (como a TV Record) e de um partido político (o Republicanos, antigo PRB).
Apesar de a IURD haver se alinhado aos governos do Partido dos Trabalhadores (PT) durante parte das gestões Lula e Dilma e de a instituição religiosa ser a única denominação neopentecostal favorável à descriminalização do aborto, os representantes políticos desta denominação e das demais no segmento evangélico costumam se posicionar de maneira conservadora nos temas sociais e da vida privada. Nos últimos anos o bloco também se unificou nas pautas econômicas, se alinhando à direita tanto no golpe parlamentar que derrubou a presidenta Dilma Rousseff (PT) em 2016, como também foram fundamentais na eleição de 2018 ao formarem um segmento sólido dentro do “bolsonarismo”.
Confira alguns candidatos evangélicos em partidos do campo progressista:
Joel Marques (PSOL)
Filho de policial, nunca teve apoio da família em seu interesse por política. Além da política, Joel Marques sempre se interessou por arte. Na juventude se afastou da igreja, publicou livros, literatura de cordel e foi cantor de brega. Morou por 17 anos no bairro de Areias, zona oeste do Recife, mas este ano se mudou para a Linha do Tiro, na zona norte. Em Areias participava da luta pela restauração do mercado público do bairro, que aparece como principal pauta da futura campanha de Joel. Ele também trabalhou por anos na Funase, órgão estadual que atua junto a adolescentes em conflito com a lei. Ele diz que essa experiência lhe ensinou da necessidade de criar oportunidades de vida digna para os jovens da periferia. Tem formação religiosa na Assembleia de Deus, mas hoje integra o Ministério Pentecostal Água Viva. Sua candidatura não foi combinada com a igreja, mas diz que ficará muito feliz caso decidam por apoiá-lo. Ele é filiado ao PSOL desde 2007. Ele segue escrevendo literatura de cordel e recentemente gravou um CD gospel.
Almir Fernando (PCdoB)
Nascido no Alto José Bonifácio, zona norte do Recife, Almir Fernando dedicou sua juventude ao futebol. Foi atleta do Santa Cruz, clube pelo qual disputou a Copa São Paulo de Juniores, se tornou atleta profissional e foi campeão pernambucano em três oportunidades (1985-86-90). Precisou encerrar a carreira por problemas de saúde e passou a viver do comércio. Neste período ele começou sua trajetória na associação de moradores do bairro. Como líder comunitário, conquistou junto à Prefeitura a construção de equipamentos públicos e linhas de ônibus. Foi eleito já em sua primeira campanha, em 2004, ainda pelo PHS. Mas após uma reforma administrativa que reduziu o número de vereadores no Recife, ele perdeu o mandato. Filiou-se ao PCdoB e em 2008, apesar de obter o triplo de votos da disputa anterior, não foi eleito, mas ficou na suplência, assumindo o mandato em 2011. Ele foi reeleito em 2012 e 2016, dedicando seus mandatos principalmente às reivindicações das lideranças comunitárias nas periferias da zona norte do Recife.
Luiz Eustáquio (PSB)
Nascido no bairro de Campo Grande, Eustáquio teve infância no bairro de Santo Amaro. Desde cedo se tornou membro da Assembleia de Deus. Ele destaca que sempre estudou em escola pública e, no início da vida adulta, foi aprovado em concurso público do INSS. Começou a se envolver nas greves e por muito tempo foi conselheiro de base do Sindicato dos Trabalhadores Federais da Saúde e Previdência (Sindsprev), do qual se tornou diretor nos anos 1990. No mesmo período se formou em Teologia pela Assembleia de Deus. Em 2004 foi eleito vereador do Recife pelo PT, sendo reeleito em 2008 e 2012. Em 2015, pressionado e sob risco de expulsão do partido por votação contrária à causa LGBT, Eustáquio acabou se filiando à Rede, pela qual se candidatou em 2016 e perdeu. Em 2020, com a morte do vereador Carlos Gueiros (PSB), Luiz Eustáquio assumiu a vaga. Hoje integra o PSB. Ele é ligado à comunidade terapêutica Associação Oásis da Liberdade (AOL).
A reportagem também entrou em contato com o PT e o PDT, mas não obteve resposta.
Edição: Vanessa Gonzaga