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Redução do Auxílio Emergencial ameaça toda a economia do país, indica especialista

Decisão do governo acontece em momento de inflação dos produtos da cesta básica e pode piorar cenário da fome no país

Brasil de Fato | Recife (PE) |

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Parcela do auxílio emergencial reduz para R$ 300,00, enquanto custo da cesta básica na região Metropolitana do Recife chega a R$ 449,22 - Foto: Agência Brasil

Até agosto deste ano, 69 mil pessoas ocupadas e afastadas em Pernambuco deixaram de receber remuneração, é o que aponta a pesquisa Pnad Covid-19, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A nível nacional, a taxa de desocupação está em 13,8%, a maior taxa da série histórica iniciada em 2012. Mesmo com esse cenário, o governo federal escolheu reduzir o Auxílio Emergencial para uma parcela de R$ 300,00. 

O benefício tem sido responsável por manter a dinâmica econômica do Brasil em patamares menos piores, é o que aponta a economista especialista em Economia Social e do Trabalho Iriana Cadó. “O auxílio manteve a possibilidade de consumo, sobretudo das famílias mais pobres, e isso teve um impacto muito positivo do ponto de vista da manutenção da renda dos comércios, das pequenas empresas e da manutenção de alguns empregos”, indica a especialista. 

A extinção do programa é perigosa para indicadores econômicos e sociais. “Se a gente corta essa ponte de sustentação da dinâmica econômica, as pessoas não vão ter renda para consumir e isso vai impactar a dinâmica da economia no conjunto. Serviços, comércios fechando, mais desemprego e o retorno à fome - que já é uma realidade”. A fome no Brasil ultrapassou as 10 milhões de pessoas, o que representa um aumento de 43,7% de pessoas em insegurança alimentar grave nos últimos cinco anos, segundo pesquisa do IBGE. 

Assim como em todo o país, Pernambuco também tem visto um aumento do preço dos produtos da cesta básica. Neste mês, o custo da cesta está em R$ 449,22 na região Metropolitana do Recife, um aumento de 1,16% em relação ao mês anterior (Procon-PE). Para quem depende exclusivamente do auxílio, com um valor de R$ 300,00, nem o básico pode ser comprado. 

É o que tem causado preocupação para a pernambucana Socorro Barros, mãe de dois filhos em idade escolar e desempregada. "Nossa situação financeira depende do meu esposo, que tem empregos inconstantes. Quando não está trabalhando, que foi o caso do início da pandemia, a gente fica dependente de amigos e familiares. Nesse sentido, o auxílio foi muito positivo no início, 99% foi utilizado para alimentação”, explica. 

No início, a família contava com duas parcelas, porém no último mês, a do marido foi cancelada automaticamente porque ele teve sua carteira assinada. O que preocupa a família, no entanto, é que os contratos do marido são sempre curtos como carpinteiro. "A gente não estava preparado para essa situação, principalmente com esse aumento horrível dos preços nesses últimos dois meses, dos alimentos mais básicos. Essa redução no valor justamente agora foi muito ruim", comenta a mãe. Em anúncio oficial da ação, no Palácio da Alvorada, o ministro da economia, Paulo Guedes, ressaltou a prorrogação do auxílio até o final do ano e citou em sua fala que "o presidente não deixou ninguém pra trás". 

Edição: Vanessa Gonzaga