O Projeto de Lei 05/2019, que proíbe a dupla função dos motoristas de ônibus, volta ao plenário para votação na próxima terça-feira (13) na Câmara dos Vereadores do Recife após vários adiamentos. O texto de autoria do vereador Ivan Moraes (PSOL) junto às trabalhadoras e trabalhadores rodoviários é contra a proposta de que o motorista assuma também as funções do cobrador, o que gera a demissão em massa de milhares de rodoviários.
"Esse é um projeto de tamanha importância para toda a sociedade, trabalhadores e usuários de transporte, justamente porque garante o emprego e vai contra esse sistema, contra esse interesse do setor patronal, que é de aumentar o nível de exploração dos trabalhadores para eles terem que dirigir e cobrar a passagem ", explica Aldo Lima, trabalhador rodoviário e presidente do Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco.
Alguns dos passageiros também não estão satisfeitos com a ideia da dupla função dos motoristas, uma vez que pode impactar na qualidade do serviço de transporte. "Nós temos um trânsito caótico, não temos segurança no sistema público de transporte e o motorista ainda vai estar responsável por duas funções: ele vai ter que parar o ônibus para trocar a passagem, porque não dá para ele trocar passagem enquanto está dirigindo", afirmou Amanda Oliveira, designer e usuária de transporte público, que completa "acho que isso vai dificultar tanto a vida do passageiro, que os ônibus vão demorar mais a chegar, como também para os motoristas que vão ter que desdobrar atenção e ainda vão ter que dirigir, pensar e calcular o dinheiro"
Essa atenção redobrada é uma das maiores preocupações do sindicato, que percebe a nova atividade como algo que pode dispersar o motorista na direção do veículo. "Além de também trazer insegurança para a prestação de serviço, o motorista está colocando em risco a vida dele, porque ele pode a qualquer momento cometer uma falha devido ao acúmulo de função; e além disso o motorista coloca em risco a vida dos usuários, dos transeuntes, dos ciclistas, porque ele pode cometer uma colisão", afirmou Aldo, que acredita que o acúmulo de função representa um retrocesso para a categoria. "A dupla função é o maior retrocesso do sistema de transporte público de passageiros, porque não é possível perceber onde há avanço quando o motorista precisa dirigir, cobrar a passagem, passar troco, embarcar e desembarcar os passageiros que são cadeirantes"
Apesar da Região Metropolitana do Recife possuir um sistema de bilhetagem eletrônica utilizado no transporte público, o Vale Eletrônico Metropolitano (VEM), os usuários acreditam que ainda assim o cartão ainda não é utilizado por toda a população, sendo imprescindível o troco. "Tentaram implementar o VEM aqui e agora muitas as pessoas tem, mas quando você não tem dinheiro no cartão, você vai ter que usar dinheiro mesmo e nem sempre você tem trocado exato para pagar a passagem e isso vai dificultar muito a vida do motorista", acredita Amanda.
Apesar do VEM representar uma nova tecnologia que vem auxiliando no pagamento das passagens, os trabalhadores acreditam que a tecnologia é um benefício pequeno diante do desemprego que será causado pela demissão em massa no estado. "Nós somos a favor da tecnologia, mas somos contra o desemprego. A tecnologia não pode ser o argumento e a desculpa para o aumento do desemprego no estado. Eles tentam trazer exemplos de países da Europa da tecnologia, mas vamos fazer as comparações aí: pagar o salário do motorista equivalente ao salário do profissional na Europa. Quer falar em tecnologia, na Europa o usuário passa de 3 a 5 minutos esperando um ônibus, aqui o trabalhador passa de 30 a 40 minutos; vamos colocar ar condicionado nos ônibus?", afirmou o presidente do sindicato. O Brasil de Fato Pernambuco entrou em contato com o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE), mas até o momento da publicação desta reportagem não obteve resposta.
Edição: Vanessa Gonzaga