Victor Assis, candidato do Partido da Causa Operária (PCO) a prefeito do Recife, foi o nono entrevistado do programa Opinião Pernambuco na série com os postulantes ao Executivo da capital pernambucana. Técnico em eletrônica e estudante de música, o jovem de 25 anos é militante no Coletivo de Negros João Cândido e trabalha no Diário da Causa Operária, canal de comunicação de seu partido. Na sabatina realizada por Stella Maris, o candidato criticou as desigualdades nas eleições e avaliou que o país caminha para uma ditadura que só pode ser impedida com organização e mobilização popular.
O candidato foi questionado por seu plano de governo ser uma resolução nacional do partido, sem propostas específicas para o Recife. Victor Assis considera que o plano pode ser desenvolvido em qualquer cidade. “Compreendemos que os problemas fundamentais da classe operária só serão resolvidos por meio de uma luta de caráter nacional, entre os trabalhadores explorados e a classe dominante. Então para nós não faz sentido desenvolver a luta num aspecto puramente municipal”, avaliou “Se não colocarmos a luta nessa perspectiva, estaremos vendendo ilusões para o povo. Isso serve tanto para os da direita, que são demagogos por natureza, como serve para alguns candidatos da esquerda que acabam entrando numa euforia eleitoral”, completa.
Destacando a necessidade de ter propostas em diálogo com o cenário nacional, Assis criticou candidatos que se dizem defensores da educação, mas ao mesmo tempo defendem o governo Bolsonaro, considerado por Victor o maior inimigo da educação brasileira. “Todos os problemas que temos nas cidades são reflexo de um projeto nacional. O que um prefeito pode fazer pela saúde é construir um hospital. Mas o problema central da saúde não é um hospital, mas que a classe dominante, os capitalistas, detém o controle sobre a saúde”, disse o postulante do PCO. “A mesma coisa na educação, em que os capitalistas controlam grande parte das escolas e inclusive estão matando crianças de coronavírus neste momento”, atacou. Ele aponta como solução a estatização das escolas e centros de saúde.
As entrevistas do Opinião Pernambuco são transmitidas às 19h30 na TV Universitária Recife (canal 11), na Rádio Universitária (99,9 FM) às 17h e ficam disponíveis no canal da TVU no Youtube. Assista na íntegra a sabatina com Victor Assis (PCO):
Victor também criticou o próprio processo eleitoral. “A eleição é feita para ser um jogo de cartas marcadas em que os candidatos da burguesia sempre vencem, exceto quando há um enfrentamento por parte da população. Sempre foi assim”, disse ele, que apontou uma piora desde o golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff em 2016. “A campanha era de 90 dias, mas foi reduzida para 45 dias. Em 2018 impediram o presidente Lula de participar, o que faz da eleição uma fraude”, opinou. Ele também considera antidemocrática a cláusula de barreira, que retirou dos partidos menores o direito a recursos financeiros e a propaganda no rádio e TV. “É uma medida completamente antidemocrática, que faz com que o PCO, PCB, PSTU e UP não tenham um segundo sequer na televisão. Na ditadura tínhamos dois partidos, o do governo militar e o da oposição consentida. Mas ambos apareciam na televisão. Hoje nem isso temos”, comparou.
O postulante à Prefeitura do Recife considera a decisão do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE) de proibir campanha de rua e quaisquer eventos de caráter eleitoral que gerem aglomerações ainda que pequenas. “As eleições são um terreno muito desfavorável para a esquerda desenvolver sua luta. Quem controla a eleição é o Judiciário, um bando de picaretas que favoreceram o golpe de estado e fortalecem o regime bolsonarista. Quem controla a eleição são os monopólios da imprensa burguesa, que manipula a eleição do jeito que quer e não nos convida para participar dos debates. Estamos aqui para chamar os trabalhadores para a luta”, avalia Victor. “Estamos num regime político de direita, caminhando a passos largos para uma ditadura”, completa Assis.
O candidato do Partido da Causa Operária considera a organização da população para as lutas é mais importante que a disputa eleitoral. “A única forma de reverter isso é pelo enfrentamento. É preciso mobilizar os trabalhadores e a esquerda pelo ‘Fora Bolsonaro’, contra os golpistas e contra a ditadura do judiciário”, diz Victor. “Não podemos participar de uma eleição fingindo que é um mero debate sobre gestão pública”, completa. “As mobilizações contra o governo Bolsonaro em 2019, que levaram cerca de 1 milhão de pessoas às ruas em todo o país, tiveram um impacto muito mais significativo que ações de qualquer prefeito ou vereador. O fato de as pessoas estarem nas ruas fez o governo Bolsonaro ter que recuar em muitas coisas”, lembra ele.
Victor admite que sua candidatura não tem condições de competir com as estruturas econômicas e partidárias envolvidas no pleito da capital pernambucana. “O Partido da Causa Operária não tem a menor condição de vencer essas eleições. E nós não estamos aqui para isso, mas para fazer propaganda do nosso programa de luta, que não depende da eleição”, afirma. O PCO, informa o candidato, aproveita o ambiente eleitoral favorável ao debate de temas políticos para debater ideias com o povo. “Para nós as candidaturas são apenas oportunidades de discutir os problemas centrais da classe operária nos locais em que nossos militantes residem, atuam, estudam”. Assis garante que a mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras é a única maneira de impedir os retrocessos no país. “Os trabalhadores deveriam se mobilizar fazendo conselhos populares. Se no seu bairro não tem teste para covid-19, não tem máscara, não tem saneamento, os trabalhadores devem se reunir, definir suas pautas e ir na prefeitura exigir, fazer protesto, fechar rua”, sugere.
Edição: Vanessa Gonzaga