Pernambuco

Eleições 2020

Marília Arraes promete retomar Orçamento Participativo e foco nos morros

Candidata do PT se comprometeu a concluir habitacionais cujas obras estão paradas e ofertar crédito a pequenas empresas

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Marília Arraes é graduada em direito, foi vereadora do Recife de 2009 a 2018, quando foi eleita deputada federal, sendo a única mulher entre os 25 eleitos em Pernambuco. - Ricardo Labastier

O programa Trilhas da Democracia, da TV Universitária Recife (canal 11) entrevistou a deputada federal Marília Arraes, candidata a prefeita do Recife pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Ela é graduada em direito e iniciou na política institucional em 2008, quando foi eleita vereadora do Recife pelo PSB. Foi reeleita em 2012 e em 2016, desta vez já pelo PT. Em 2018 foi a segunda mais votada de Pernambuco para a Câmara Federal, sendo a única mulher entre os 25 eleitos. Na entrevista realizada por Marco Mondaini a candidata fala sobre as desigualdades existentes na capital pernambucana, promete foco em políticas de habitação e geração de emprego.

Questionada sobre por que se candidatar a prefeita, ela disse sonhar com um Recife com menos desigualdades. “Não podemos deixar que as próximas gerações cresçam normalizando e se acostumando com a desigualdade social que temos na cidade”, afirmou. “Quero que minha filha e as filhas de outras famílias cresçam numa cidade em que as crianças tenham oportunidades parecidas e possam escolher seus caminhos, não que tenham que seguir caminhos impostos pela opressão”, completou.

Marília referenciou ainda as políticas públicas realizadas pelas três gestões petistas a frente da Prefeitura. O PT governou o Recife de 2000 a 2012, com duas gestões de João Paulo e uma de João da Costa. “Tivemos avanços durante os governos do meu partido, com a melhoria do material escolar, multiplicação das equipes de saúde da família de 27 para 270, as 5 mil obras nos morros da cidade, que reduziram o número de deslizamentos de barreiras”, lembrou. Ela criticou os oito anos de gestão Geraldo Julio (PSB) nesse quesito. “A atual gestão não fez 400, mostrando que contenção de encostas não é prioridade. Dos 1,6 milhão de recifenses, 500 mil vivem em morros, 200 mil em pontos de risco. Obras dos morros salvam vidas”, concluiu.

A candidata afirma que as pautas de moradia são sensíveis a ela, tanto por sua herança familiar quanto pelo partido que representa. “Onde você anda no Recife tem gente que vive lá porque Arraes foi solidário à luta por moradia dessas pessoas, assim como encontro obras de habitacionais realizadas pelas gestões do PT”, disse ela, classificando como “absurdo” o fato de haver conjuntos habitacionais com obras paradas há anos numa cidade com déficit de 70 mil moradias. “Em vários lugares da cidade vemos palafitas. Precisamos pensar habitacionais próximos ao local em que essas famílias vivem, porque normalmente elas vivem do marisco, da pesca e precisam estar perto do rio”, se comprometeu. Marília avalia ainda construir habitacionais menores, não necessariamente para centenas de famílias. O custo da obra é inferior e é mais fácil encontrar terrenos próximos ao local atual dessas famílias.

A deputada federal também propôs estimular moradia no centro do Recife, destacando o bairro de Santo Antônio. “É preciso diversificar locais de moradia. Hoje em Santo Antônio há menos imóveis tombados, temos mais de 40 prédios abandonados e com valor abaixo do débito com a prefeitura”, informou. “Por que não estimulamos os comerciários ou funcionários públicos que trabalham no centro a comprar imóveis naquela região?”, disse.

Questionada sobre a atuação das empresas da construção civil no centro da cidade, Marília saiu em defesa das empreiteiras. “Temos que ter cuidado para não demonizar determinados setores ou coloca-los sempre como vilões. Eles são da iniciativa privada e querem lucro. A questão é que não podemos ter prefeito capacho de empreiteiro. Precisamos que esses investimentos estejam a favor da cidade”, ponderou. “A construção civil é um dos setores que mais gera emprego no Recife, então é importante que se construa, mas que se construa seguindo a lógica de cidade que a gente planejar, que seja boa para a cidade, não só para o lucro”, completa a petista. Ela ainda criticou o Plano Diretor que está para ser votado na Câmara de Vereadores. “Não está agradando ninguém, nem sociedade civil e nem construtoras. Precisa ser revisto”, conclui.

Ainda sobre emprego e renda, Marília se comprometeu a facilitar a vida dos pequenos empreendimentos e microempreendedores individuais (MEIs) reduzindo a burocracia e os impostos. “Recife não é uma boa cidade para o pequeno empreendedor. Se você abrir um MEI na sua residência, já precisa pagar IPTU comercial. Isso é absurdo, porque é um trabalhador comum que provavelmente não teria aberto CNPJ se tivesse carteira assinada”, prometeu. Ela também quer um programa que batizou de “Retomada”. “O Sebrae dará orientação sobre o seu negócio e a Prefeitura dará auxílio financeiro, para você pagar metade em até 24 meses sem juros. É para fazer a economia voltar a girar”, afirma. Ela garantiu 1% da receita corrente líquida da prefeitura para o programa.

Segundo Arraes, a pandemia expôs as desigualdades já existentes no Recife. “Esse momento evidenciou desigualdades e contradições que haviam sido normalizadas pela sociedade. Coisas que não necessariamente aconteceram durante a pandemia, mas pioraram”, disse. E mirou no sistema público de transporte. “As frotas de ônibus continuam reduzidas, mas por quê? Todo mundo voltou a trabalhar, está na rua, mas as empresas seguem com frota reduzida, sendo que a frota já era insuficiente”, disse a candidata. Ela ainda mencionou a falta de saneamento e abastecimento regular de água para as periferias, as condições precárias de moradia e a pobreza. “Grande parte da população trabalha para ganhar o dinheiro pela manhã, para poder se alimentar à noite”, pontuou.

Ainda sobre transporte público, Marília Arraes criticou a atuação do poder público dentro do Consórcio Grande Recife. “O Governo do Estado, que gere o consórcio metropolitano [de transporte], vive batendo palmas para o que as empresas de ônibus dizem. Vamos falar grosso com essas empresas e o consórcio. Não temos rabo preso e vamos priorizar o direito do trabalhador, como nos posicionamos contra a dupla função”, garantiu. Ela afirma que exigirá que a população seja transportada “de maneira digna, diferente de como é hoje”.

Marília Arraes também garante que retomará espaços de participação popular, com destaque para os conselhos e o Orçamento Participativo, programa premiado internacionalmente e realizado durante os 12 anos de gestão petista no Recife. “Vou reformular o ‘OP’ para que as eleições não reproduzam vícios da eleição tradicional. Precisamos voltar a ter controle social da gestão. Quando as pessoas se sentem donas e participam da gestão, tudo funciona melhor”, avaliou. Ela também criticou o Portal da Transparência da Prefeitura do Recife. “Para descobrir as coisas no portal você precisa ser especialista nisso, porque o cidadão comum não consegue acessar facilmente as informações. E a gestão tem ignorado pedidos de informação, mesmo havendo lei que obriga a Prefeitura a responder”, reclamou.

Na pauta da educação, ciência e tecnologia, a candidata do PT mencionou a necessidade de estreitar relações não só com o Porto Digital, mas com as universidades instaladas na cidade. “Que as universidades façam parte da gestão. Elas são referências de ciência e tecnologia também. Precisamos de parcerias e programas de extensão em que a população, a prefeitura e os alunos ganhem”, disse. As escolas profissionalizantes municipais, segundo Marília, devem ser parte do Programa Retomada: “oferecer cursos conectados com mercado de trabalho, para a pessoa sair do curso já para ganhar o dinheiro ou abrir seu negócio”, disse. A candidata lembrou ainda o programa “Aluno nos Trinques”, da gestão João Paulo (PT, 2001-2008). Segundo Marília, é preciso voltar a dar dignidade e cidadania às crianças na escola

Ela também menciona o que chamou de “Programa Florescer”, a ampliação da rede de creches. “É importante para as crianças e também para as mães buscarem sua autonomia e cidadania. E essas mães terão acompanhamento, rede de proteção para direcioná-las para mercado de trabalho, coibir violência doméstica e direcioná-las para programas sociais”, disse Marília. Ela considera que seu papel, caso se torne a primeira mulher prefeita do Recife, deve ir além da simbologia. “Precisamos investir na educação, na formação, uma política pública de combate ao machismo e à misoginia. E parcerias constantes da Prefeitura com as comunidades”, disse. A candidata também se comprometeu com políticas afirmativas, destacando implementar efetivamente a Lei Federal 10.639, que exige o ensino da história africana e afro-brasileira nas escolas.

Edição: Vanessa Gonzaga