Neste domingo (29) a população do Recife vai novamente às urnas decidir quem deve governar a cidade de 2021 a 2024. Os dois partidos que disputam esse segundo turno têm trabalho a mostrar. De um lado Marília Arraes, do Partido dos Trabalhadores (PT), que governou a cidade de 2000 a 2012, com apoio do PSB; do outro lado João Campos, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que governou de 2013 a 2020, tendo apoio do PT nos últimos dois anos.
Para completar, ambos são primos de segundo grau, descendentes do ex-governador Miguel Arraes. Marília é neta de Arraes e prima do ex-governador Eduardo Campos, pai de João. Os dois postulantes à prefeitura são deputados federais em primeiro mandato e ambos fazem oposição ao presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido). Nas duas semanas de campanha entre os turnos, as propostas dividiram espaço com ataques entre os candidatos.
Já na primeira semana a candidata petista teve uma agenda bastante positiva, recebendo apoios de igrejas evangélicas e de lideranças do campo da direita que saiu derrotada nas eleições do Recife. Marília recebeu apoio do deputado federal e presidente estadual do Podemos, partido da candidata derrotada Patrícia Domingos; o ex-senador Armando Monteiro Neto (PTB) e o prefeito reeleito de Jaboatão, Anderson Ferreira (PL), ambos apoiaram Mendonça no 1º turno e agora declararam apoio a Marília. Para completar, as pesquisas de intenção de voto apontaram liderança da candidata do PT.
Pelo lado de João Campos, o ex-vereador Estéfano “Menudo”, pai da vereadora reeleita Natália “de Menudo”, deu declaração pública, filmado, durante culto numa igreja, afirmando que ele tem hoje 232 “empregos” (funcionários indicados por ele) na Prefeitura do Recife, com perspectiva de aumentar este número para mais de 300 a partir de janeiro, caso João Campos vença. Nos últimos dias também vieram à tona denúncias que afirmam que funcionários terceirizados da Prefeitura do Recife tem sido obrigados a fazer campanha para João Campos.
Surpreendido pela liderança de Marília nas pesquisas, João Campos e o PSB colocaram sua artilharia em ação, apelando para o antipetismo (mirando conquistar o eleitorado de direita) e para mentiras relacionadas a religiosidade (buscando o voto do conservadorismo religioso). O PSB colocou o conteúdo tanto nas propagandas de TV como nos panfletos distribuídos nas ruas, sendo obrigado a retirar propagandas do ar, após a Justiça Eleitoral considerar que é mentiroso o conteúdo das acusações feitas por João contra Marília.
Apesar da quantidade de ataques das quais tem sido alvo, Marília não colocou nas ruas nenhum ataque que tenha sido classificado como “fake news”. Ainda assim, as pesquisas mais recentes mostram que Marília segue na frente. De acordo com a pesquisa divulgada pelo Datafolha, Arraes tem 52% das intenções de votos válidos e João Campos 48%. A pesquisa foi encomendada pela Folha de S. Paulo e TV Globo e está registrada no Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco com o número PE-069352020 com nível de confiança estimado em 95%.
Um dos personagens principais neste 2º turno foi o deputado federal Túlio Gadêlha (PDT). Ele chegou a ser cotado como candidato à Prefeitura do Recife, mas ainda em agosto o PDT retirou seu nome do páreo e colocou o partido na base de apoio de João Campos (PSB), inclusive indicando para vice de João a ex-vereadora Isabela de Roldão (PDT), que integra um grupo interno do PDT que não dialoga bem com Túlio. Em 2022 o PDT deve lançar novamente Ciro Gomes para presidente e espera que o PSB retribua o apoio. Túlio, apesar de apoiar Ciro, não gostou nem um pouco de como se deu o processo na capital pernambucana. Não se posicionou no 1º turno, mas decidiu contrariar o partido e declarar apoio a Marília Arraes neste 2º turno.
A eleição deste domingo, no Recife, deve se mostrar muito acirrada e disputada voto a voto. Mas independente de quem vencer, o eleitor já demonstrou que espera uma gestão não-alinhada ao bolsonarismo. Há que se observar o comportamento de PT e PSB no pós-eleição. Os partidos são aliados de longas datas, apesar de algumas rusgas nessa relação.
Edição: Monyse Ravena