Pernambuco

SÉRIE CÂMARA

Esquerda na Câmara Municipal do Recife ganha mais qualidade a partir de 2021

PT, PSOL E PCdoB ganharam mais cadeiras na Câmara, mas PSB ainda tem maioria absoluta

Brasil de Fato | Recife (PE) |
No balanço da centro-esquerda, uma redução de 22 para 19 vereadores, mas uma renovação com ganhos de qualidade e de firmeza ideológica - Carlos Lima

Para compreender melhor a composição da Câmara Municipal do Recife nos próximos quatro anos, o Brasil de Fato Pernambuco publica hoje a primeira de uma série de três matérias com a composição da Câmara organizada a partir dos candidatos de esquerda, do centro e de direita eleitos. Conheça agora os vereadores e vereadoras identificados como políticos de centro e esquerda que atuarão na Câmara Municipal de Recife a partir de 2021.


PSB, PT, PCdoB e PSOL integram bancada de centro-esquerda no Recife / Vinícius Sobreira

Centro-esquerda

O campo da centro-esquerda – aqui contados como PSB, PT, PCdoB e PSOL – terá 19 vereadores, praticamente metade da Câmara Municipal. Na atual legislatura são 22, mas sendo 18 só do PSB, muitos dos quais não demonstram compromisso ideológico com a esquerda em seus posicionamentos, sendo que boa parte dos quais foram derrotados nesta eleição.

O maior partido segue sendo o PSB, que sozinho obteve 202 mil votos (24,8%) para a Câmara, dos quais 14 mil votos foram na legenda (mais votos que qualquer vereador da sigla). O PSB possui atualmente 18 parlamentares, dos quais 8 foram derrotados e 10 foram reeleitos, ganhando a companhia de mais dois. Entre os oito derrotados, apenas Goretti Queiroz, ativista da causa animal, demonstrava alguma inclinação à esquerda. Aerto Luna é conservador católico, Aimée Carvalho é conservadora evangélica e Augusto Carreras é ligado a interesses de empreiteiras e de empresas de eventos.

Os reeleitos foram Romerinho Jatobá, Davi Muniz, Hélio Guabiraba, Aderaldo Pinto, Felipe Francismar, Natália de Menudo, Alcides Teixeira, Luiz Eustáquio, Eduardo Marques e Wilton Brito. Destes, têm posições mais progressistas Hélio Guabiraba e Luiz Eustáquio, com a ressalva de que este último, sindicalista ligado ao Sindicato dos Servidores da Previdência (Sindsprev), é também ligado ao neopentecostalismo e tem histórico de posições contrárias a pautas LGBTs, por exemplo. Já Davi Muniz se intitula como bolsonarista.

A bancada ganhou dois novos parlamentares: Carlos Muniz, genro do ex-vereador Carlos Gueiros, falecido em 2019 e proprietário de empresas de ônibus que fazem transporte urbano no Recife; e Joselito Ferreira, trabalhador metroviário e presidente da Associação de Moradores do Barro. O PSB tem como suplentes Rinaldo Júnior, Marcos di Bria Júnior e Antônio Luiz Neto. No balanço final, de 2020 para 2021 haverá uma redução de seis vereadores, mas o número de progressistas cai de três para dois, podendo se manter em três a depender dos posicionamentos de Joselito Ferreira. A perda foi de parlamentares com perfil conservador e governista.

Ainda no campo da esquerda, o Partido dos Trabalhadores (PT) ampliou sua bancada de dois para três vereadores, mas dos dois atuais apenas um foi reeleito, ganhando a companhia de dois que não tinham mandato. O PT foi o terceiro partido mais votado para a Câmara Municipal, com 57,9 mil votos (7,1%), dos quais 10 mil votos foram na legenda e, assim como o PSB, a legenda teve mais votos que qualquer candidato a vereador pelo partido. A mais votada foi Liana Cirne, professora de Direito da UFPE e militante dos Direitos Humanos, que fará sua estreia na política institucional.

Quem também não tinha mandato e foi eleito é Osmar Ricardo, servidor público municipal e sindicalista ligado ao Sindicato dos Servidores Municipais do Recife (Sindserpre), além de possuir forte atuação no seu bairro de origem, Santo Amaro. Osmar já foi vereador por quatro mandatos (2001-2016), mas acabou derrotado na última eleição municipal. 

O atual vereador Jairo Britto, que conseguiu se reeleger para seu quarto mandato (2009-2024), tem atuação discreta e integrou a base da gestão Geraldo Julio, mas esteve muito presente ao lado da candidata derrotada Marília Arraes durante o 2º turno, o que pode ter sido uma sinalização de uma mudança de posicionamento para a próxima legislatura. Seu atual companheiro de bancada, o ex-prefeito João da Costa, não conseguiu ser reeleito e está na suplência, seguido do ex-deputado federal Fernando Ferro e da sindicalista Suzi Rodrigues.

O PSOL foi o sétimo partido mais votado para a Câmara. A sigla obteve 36 mil votos e subiu de um para dois o número de vereadores na casa. O vereador Ivan Moraes, jornalista e militante dos Direitos Humanos, conseguiu ser reeleito. Ele terá a companhia da advogada e militante feminista Dani Portela, candidata mais votada da capital pernambucana, com 14,1 mil votos. Dani fará sua estreia na política institucional. Em 2018 ela se candidatou a governadora de Pernambuco, quando alcançou os 188 mil votos (5%). Na suplência estão a candidatura coletiva Pretas Juntas e o policial civil antifascista Áureo Cisneiros.

O PCdoB também ampliou de um para dois vereadores. O partido foi o nono mais votado para a Câmara, com 32 mil votos. O atual vereador Almir Fernando está indo para o seu quarto mandato (entrou como suplente em 2011 e está garantido até 2024). Ele é ex-atleta profissional de futebol e tem forte atuação territorial na zona norte do Recife, especialmente no seu bairro, o Alto Santa Terezinha. O parlamentar é evangélico. Ele ganha a companhia da advogada e poeta Cida Pedrosa, militante feminista que foi secretária da Mulher e de Meio Ambiente na gestão Geraldo Julio. Em ano de vitórias, seu livro de poemas Solo para Vialejo foi eleito o livro do ano 2020 pelo Prêmio Jabuti, maior premiação literária do país. Ficaram na suplência os candidatos Eurico Freire e Antônio Stênio.

No balanço da centro-esquerda, uma redução de 22 para 19 vereadores, mas uma renovação com ganhos de qualidade e de firmeza ideológica.

PDT, PV e Rede

Criou-se expectativa em torno do PDT de Ciro Gomes e do deputado federal Túlio Gadêlha. Após relativo sucesso do candidato à presidência em 2018 e do deputado federal estreante, esperava-se que o PDT – que não tem um vereador sequer na capital – elegesse ao menos um. Mas o partido não conseguiu. Com 14,1 mil votos, ficou muito distante do coeficiente eleitoral (21 mil). O PV fez 9 mil votos e também não elegeu ninguém. A Rede foi o partido menos votado do pleito do Recife, com apenas 475 votos.




 

Edição: Vanessa Gonzaga