Pernambuco

CULTURA

O que tu indica? | “A Mulher de pés descalços”, de Scholastique Mukasonga

O romance é uma homenagem a sua mãe e a cultura ruandesa

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Mukasonga descreve o dia a dia de um povo exilado e da luta cotidiana das famílias tutsis - Guilherme Santos/Sul21

“A Mulher de pés descalços” é um livro escrito pelas mãos de quem viveu a luta fraticida em Ruanda (1994), ou guerra civil, conhecida como genocídio de Ruanda. Uma disputa étnica entre os Hutus e os Tutsis, a etnia da autora. É um romance em homenagem a sua mãe e nele nós mergulhamos no mais profundo da cultura ruandesa, conhecemos suas mulheres e mais especificamente, as mulheres tutsis. 

Mukasonga descreve o dia a dia de um povo exilado, da luta cotidiana das famílias tutsis para esconder as crianças, a colheita do sorgo, a construção das casas, rituais... tudo a partir da lembrança da autora. 

É possível observar a denúncia não só aos hutus, mas aos colonizadores, os Belgas. Se no Burundi onde a escritora se exiliou é colonizado pela França, em Ruanda a colonização é Belga e enfatizada em vários capítulos do livro, inclusive o papel da Igreja é pontuado contundentemente através do apagamento dos costumes, cultura e o anseio pela dizimação da etnia, como visualizamos nesse trecho do livro: “Talvez as autoridades hutus, estabelecidas pelos belgas e pela Igreja à frente da Ruanda recentemente independente, esperavam que os tutsi de Nyamata fossem pouco a pouco dizimados pela doença do sono e pela fome.”

Sthefania, mãe de Mukasonga, é a personagem que vai dar vida a toda história. Ela vivencia cada acontecimento. A autora pega todo horror, tristeza e transforma em rebeldia, resistência e nos conta a beleza da luta de um povo. 

No conflito entre os hutus e os tutsis também é possível enxergar em um outro livro, “Meu pequeno país”, do escritor Gael Faye, este contato a partir do Burundi onde a autora Mukasonga se exiliou. Ambos os autores também se exilaram na França. São livros que se conversam porque a história do povo precisa ser contada, mas também precisa ser lida e conhecida. 

O livro da Ruandesa Scholastique Mukasonga, além da belíssima homenagem a sua mãe, nos presenteia com a riqueza cultural, histórica e literária de Ruanda. Uma leitura valiosa que merece ser feita e refeita.

*Louise Xavier é estudante e militante do Levante Popular da Juventude

Edição: Vanessa Gonzaga