Com muita animação e, sobretudo, vontade de compartilhar as experiências muitas do processo eleitoral recente das eleições municipais 2020,o II Fórum de Mulheres Negras e Poder do Nordeste começou na manhã desta quinta-feira através da internet. Mais de 100 mulheres de diversas cidades do Nordeste que foram candidatas ou acompanharam de perto as campanhas de mulheres negras reservaram este dia para avaliar como foi o caminho até aqui.
O evento traz o tema “Decolonizando a Política” e iniciou a programação analisando os processos das eleições 2020. O debate girou em torno da análise da conjuntura política do país, mas, sobretudo nos desafios postos para a construção real das candidaturas negras. Para Valdecir Nascimento, as campanhas eleitorais e também os movimentos para o fortalecimento delas foram significativos para o período. “Nossas campanhas cumpriram um papel importantíssimo para afirmar para a sociedade que nós estamos juntas, estamos fortes e vamos ocupar nossos espaços. O Nordeste vive um processo constante de necropolítica e nós estamos pela nossa própria conta! Nós mulheres negras temos a fórmula para um processo de construção e invenção de novo mundo. É pesado, mas, nós estamos juntas”, avalia.
E para esse projeto de novo mundo, que vai além das cadeiras ocupadas ou não por essas mulheres, Maria José Menezes enfatizou o quanto é importante olhar para o histórico de luta. “Eu fico imensamente feliz em ter a certeza de que as mulheres negras têm um histórico de luta civilizatório neste país. Se nós temos hoje o SUS, fomos nós que nos organizamos. Há 30 anos não tínhamos um Sistema Único de Saúde. Fomos nós mulheres negras da periferia que nos organizamos e encampamos essa luta. A branquitude se estrutura em privilégios e nós permanecemos em luta, fazendo sempre o enfrentamento”, diz.
O Fórum é parte da campanha Eu voto em Negra, que impulsionou diversas candidaturas de mulheres negras no país durante o ano de 2020 e faz parte do Projeto Mulher Negra e Democracia, impulsionado pela Casa da Mulher do Nordeste, Centro das Mulheres do Cabo, Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste, em parceria com a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e a Rede de Mulheres Negras do Nordeste, com o apoio do Fundo Mujeres Del Sur. Para Ingrid Farias, o acúmulo desse projeto é bastante positivo, sobretudo pelas iniciativas que iniciaram durante as campanhas eleitorais. “Esse ano foi um ano que a gente precisou repensar os formatos como a gente se relacionava com a política vivida. Foi um momento diferente para todas nós e que vivemos positivamente porque tivemos muitas práticas inovadoras que são frutos desses processos históricos que nós estamos vivenciando no Brasil de um levante popular, especialmente das mulheres”, diz.
Depois do debate, a primeira parte do encontro contou ainda com uma apresentação emocionada de Ana Benedita Costa, do Ilê Obá Aganjú Okoloyá - Terreiro de Mãe Amara, que cantou uma música em homenagem a Iemanjá, que segundo ela, é a orixá que “ segura nossa cabeça e que mantém o nosso equilíbrio para que possamos continuar firmes”.
A programação do Fórum segue na tarde desta quinta com a atividade “Painel 2 – Vivências das candidatas nas eleições 2020” e na sexta (11), com o debate sobre as perspectivas futuras. O encontro desta quinta está sendo transmitido ao vivo no canal do Youtube da campanha Eu Voto em Negra.
Balanço das eleições
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, em números totais, 84.418 mulheres negras foram candidatas à vereança em 2020, mas apenas 3.634 foram eleitas, representando 6% nas novas câmaras municipais. Já em Pernambuco, das 35 prefeitas eleitas, 11 são negras e pardas, e das 287 vereadoras, 140 são negras e pardas.
Edição: Vanessa Gonzaga